Osip Piatnitsky**
1930
Osip Piatnitsky |
As formas bolcheviques e social-democratas de organização do Partido
Até 1905 não houve na Rússia czarista
eleições nem campanha eleitoral. Nem os camponeses nem os operários
participavam das eleições dos zemstvos ou das municipalidades urbanas. Não
possuíam o direito de voto. Depois de 1905, quando, em razão das eleições para
a Duma se elaboraram condições especiais para os operários, foram criadas
divisões especiais e os operários votavam por empresa e por fábrica.
Uma situação ilegal de todos os partidos
até 1905, uma ausência de campanhas eleitorais e ao mesmo tempo (o qual é
essencial) uma posição justa dos bolcheviques na questão da organização do
Partido (o recrutamento para o Partido de operários de fábricas e de empresas,
a criação de círculos de estudos políticos e gerais, tais foram na Rússia
czarista as particularidades da formação do Partido bolchevique. A situação
ilegal do Partido bolchevique, além das razões já mencionadas, o impulsionava a
criar os grupos do Partido nas empresas, pelo fato de que era mais fácil e
cômodo militar. A edificação do Partido começou, pois, nas fábricas e nas
empresas. Isso deu brilhantes resultados, tanto nos anos de reação e depois da
revolução de fevereiro como, particularmente, no curso da revolução de outubro,
em 1917, da guerra civil e da grande construção do socialismo.
Durante a reação, depois de 1908, quando
os comitês locais do Partido e sua direção (o Comitê Central) eram aniquilados
periodicamente, nem por isso sua base deixava de se manter firme nas fábricas e
empresas. As células do Partido continuavam a ação. Depois da revolução de fevereiro,
as eleições dos sovietes de deputados operários também eram realizadas por
fábrica e por empresa. É importante destacar que as eleições para as dumas das
cidades e bairros e para a Assembleia Constituinte tinham lugar não por
empresa, mas por domicílio dos eleitores. Mesmo assim, depois das revoluções de
fevereiro e de outubro o Partido bolchevique obteve os mesmos êxitos apesar de
não ter organizações de bairro e de concentrar sua agitação nas empresas e nos
quartéis. As células, os comitês de zona, e os comitês de cidade fizeram a
campanha eleitoral sem constituir organizações especiais para as eleições por
bairro. O Partido Bolchevique sempre tinha suas organizações de base no local
de trabalho de seus membros.
Outra coisa ocorria no estrangeiro. Ali as
eleições ocorriam não por empresa, mas por distrito, pelo domicílio dos
eleitores. A tarefa principal que os partidos socialistas se propunham era de
organizar bem a campanha eleitoral e de lutar pela cédula eleitoral. Por esta
razão, o Partido estava igualmente organizado no local de habitação de seus
membros, a fim de facilitar seu agrupamento para realizar a campanha nas
circunscrições eleitorais.
Ligação
dos partidos social-democratas com as empresas
Mas não se pode dizer
que os partidos social-democratas não estavam ligados às fábricas e empresas.
Estavam ligados por intermédio dos sindicatos, à cabeça dos quais se
encontravam membros do Partido Social-Democrata. Apesar de que os sindicatos
não estivessem organizados sobre a base das empresas, elas tinham seus
delegados, seus tesoureiros, e como em sua maioria eles eram delegados e
tesoureiros sindicais social-democratas, os partidos social-democratas, por
intermédio destes delegados, pelos sindicatos, estavam ligados às empresas.
Quando apareceram os partidos comunistas (em certos países, em consequência da
cisão e da saída dos partidos social-democratas; em outros, como na
Tchecoslováquia e na França, depois que a maioria decidiu aderir à
Internacional Comunista, a minoria teve que se organizar em partido
social-democrata) formaram suas organizações sobre o modelo social-democrata. E
isso apesar dos partidos comunistas terem se proposto, a partir de sua
existência, objetivos distintos dos partidos social-democratas. Eles se
propunham derrubar a burguesia e conquistar o poder pelo proletariado, enquanto
a social-democracia internacional, depois de ter apoiado a burguesia durante a
guerra, havia se convertido em sua principal sustentação depois da guerra.
Mesmo assim, os partidos comunistas
construíram sua organização como os social-democratas, por circunscrição
eleitoral, por local de habitação dos membros do Partido e dos eleitores.
Acrescente-se que não possuíam suas organizações sindicais e que onde as criaram,
estas não tiveram nem têm até agora sólidos laços de organização com as
empresas. Deste modo, as organizações do Partido Comunista nos países
capitalistas estavam organizadas sem ligação permanente de organização com as
empresas. É aí o principal defeito de organização dos partidos comunistas, que
deve ser destacado claramente pelos professores que ensinam nas escolas do
Partido. As tarefas dos partidos comunistas eram outras, mas suas organizações
tinham a mesma estrutura que as dos social-democratas. Se os social-democratas
estavam ligados às empresas por intermédio dos sindicatos, os partidos
comunistas nem sequer possuíam uma organização semelhante, e isso é igualmente
válido, inclusive para partidos comunistas que têm uma grande influência nos
sindicatos vermelhos (Partido Comunista Tchecoslovaco, Partido Comunista
Francês). Desde sua aparição, os partidos comunistas adotaram as formas de
organização do Partido Bolchevique. Mas durante e imediatamente depois da
guerra, em muitos países, os operários nomearam delegados revolucionários (na
Alemanha desempenharam um grande papel no curso das greves durante a guerra),
elegiam comitês de empresa (por exemplo, os shop stewards(1) na Inglaterra), e
inclusive envia seus delegados aos sovietes. Desta maneira puderam se convencer
das vantagens da organização dos operários por local de trabalho com relação à
organização dos operários por local de habitação. Mas quando a tempestade
revolucionária se acalmou, as tradições social-democratas recuperaram sua
posição predominante sobre as formas de organização similares às formas
bolcheviques de trabalho nas empresas. Isso é o que explica porque os partidos
comunistas, e em particular as organizações de zona e de base do Partido, as
organizações sindicais revolucionárias e os quadros que assumem de fato o
grosso do trabalho revolucionário e do trabalho do Partido, renunciaram então
aos métodos quase bolcheviques do trabalho nas empresas. E hoje em dia, ao não
encontrar a resistência necessária nos dirigentes do Partido, se opõem a estes
métodos, mesmo tendo demonstrado sua superioridade sobre os métodos
social-democratas.
O exemplo de 1923, quando o Partido não
aproveitou a situação revolucionária para derrubar a burguesia, não somente
porque faltava uma verdadeira direção revolucionária, mas por carência de
ligação ampla e sólida com os operários das fábricas e empresas, basta para
provarmos que a ausência de organização do Partido nas empresas influi
poderosamente no trabalho do Partido Comunista. Em 1923, a social-democracia
alemã havia se debilitado consideravelmente. Seus efetivos baixavam de uma
maneira inaudita. Os sindicatos reformistas contavam, em 1922, com 9 milhões de
membros... (7.895,065 na Confederação do Trabalhador e o resto no Sindicato de
Funcionários). Em 1923 não conservavam mais que 3 milhões de membros. O aparato
dos sindicatos reformistas se desagregava. Já não se pagava aos funcionários.
Nesse momento o Partido Comunista Alemão teria podido se assenhorar do poder se
tivesse uma direção revolucionária, se tivesse travado uma luta verdadeira
contra o partido social-democrata e os reformistas, e se tivesse estado com as
empresas, se as tivesse mobilizado empregando a tática revolucionária da frente
única na luta pela ditadura do proletariado, em lugar da frente única de
Brandler com os social democratas saxões de “esquerda” e seu governo Zeigner. A
conferência convocada em 1923 pela direção oportunista de Brandler para decidir
se era preciso obrar ou não, reuniu em sua maioria funcionários do Partido,
chefes do movimento cooperativo e sindical entre os quais figuravam bom número
de oportunistas de direita do tipo Brandler, Talheimer e Walcher, sem ligação
com as massas. Eles ignoravam a vida e o estado de ânimo das massas operárias e
foi esta conferência a que decidiu não intervir.
As
células de Empresa e de rua
Na Rússia czarista as células (ou os
bolcheviques isolados nas empresas onde não havia células) tiravam proveito de
todas as reprimendas dos patrões: a brutalidade dos contramestres, os erros
intencionais no pagamento dos salários, as multas, a negativa de pagar o
subsídio por acidente de trabalho, etc. Propaganda era feita nas oficinas, eram
distribuídos volantes, comícios eram organizados nos pátios e nas portas de
fábricas, assim como reuniões de operários simpatizantes e revolucionários. Os
bolcheviques imputavam os acidentes nas empresas ao regime autocrático,
porquanto os operários experimentavam em suas costas o chicote dos mercenários
do czar, o presídio e a deportação por seus protestos e suas greves contra os
patrões. Ao mesmo tempo, as células, em sua agitação, ligavam a autocracia ao
regime capitalista e devido a isso é que, desde o começo mesmo do movimento, os
bolcheviques ligavam as reivindicações econômicas às reivindicações políticas,
e a luta econômica à luta política.
Quando o estado de ânimo dos operários era
favorável à greve, as células bolcheviques se punham à cabeça do movimento. As
greves se propagavam de uma oficina a outra, de uma fábrica a outra, enquanto
que, sob a direção e a influência das organizações do Partido Bolchevique,
estes movimentos de greve tomavam amiúde a forma de manifestações de rua. Deste
modo, as greves econômicas se transformavam em uma batalha política. A história
do movimento operário na Rússia czarista viu mais de uma greve isolada de
empresa se transformar em greves de todas as empresas de uma cidade e se
estender a outras cidades. Todas estas greves, em que pese o trabalho
clandestino dos bolcheviques, custavam enormes sacrifícios da parte desses e
dos operários revolucionários. Mas com o exemplo destas vítimas, se formavam
sem cessar novos quadros na luta e na ação cotidiana para continuar a batalha.
As células bolcheviques se converteram assim nas organizações da luta das
massas no terreno econômico e político.
Em 1921, o terceiro Congresso da
Internacional Comunista formulou as primeiras teses sobre a organização dos
partidos comunistas nos países capitalistas. Até 1924 os partidos comunistas
fizeram ouvidos de mercador. Atualmente existem em todos os partidos comunistas
células de empresa que, mesmo assim, sobretudo nos partidos comunistas legais,
passam o tempo sem fazer nenhum trabalho prático nas empresas. As tradições
social-democratas na estrutura do Partido se arraigaram de tal maneira nas
filas do Partido comunista que dominam os membros do Partido, inclusive quando
aplicam os princípios de organização. Existem em muitos lugares células de
empresa do Partido, mas se acham longe de modificar os métodos de seu trabalho.
Discutem as questões do Partido, participam nas campanhas de reeleição dos
comitês de empresa, inclusive às vezes editam jornais de fábrica, mas não se
ocupam das questões da empresa, não se dedicam a uma propaganda verbal
individual nas oficinas, na porta das fábricas, nos trens nos quais viajam os
operários. Raramente organizam comícios por ocasião das reuniões convocadas
pelos comitês operários de empresa, onde tomam a palavra os reformistas e os
social-democratas e onde, mais que em qualquer outro lugar, pode-se demonstrar
e provar sua traição. As células de empresa não dirigem nem controlam o
trabalho dos comunistas nos comitês sindicais de empresa dirigidos pelos
reformistas.
Deixam os comitês vermelhos sem direção e
é por essa causa que frequentemente não trabalham melhor que os comitês
reformistas. As principais campanhas dos sindicatos e do Partido não são
travadas por meio das células de empresa. Inclusive as campanhas pelas eleições
municipais, legislativas e as eleições para o Landtag que ocorrem com bastante
frequência, não são levadas a cabo, até agora, pelas células de empresa, mas
pelas de fábrica. Em consequência disso, ocorre amiúde que as células de
empresa só conhecem a declaração das greves nas oficinas e inclusive nas
fábricas onde trabalham seus membros até depois que estalam. Inclusive quando
as células de empresa, os grupos de oposição sindical e os sindicatos vermelhos
preparam as greves, uma vez eleito o comitê de greve, as células e os grupos
sindicais abandonam a direção e cessam de existir como organizações. Os
reformistas aproveitam naturalmente esta situação.
Pode-se dizer o mesmo da maioria das
células de empresa dos países capitalistas. Isso não significa que ali não
tenha células que trabalham admiravelmente e que demonstram que o sistema das
células de empresa é superior à estrutura social-democrata de organização do
Partido. Mas, desgraçadamente, essas células constituem uma minoria. A enorme
maioria das células de empresa não funcionam e, no melhor dos casos, funcionam
mal. Um fenômeno bastante corrente até a data é que a célula não agrupa os
membros do Partido na empresa. O Partido Bolchevique não conhecia mais que
apenas uma organização de base: a célula de empresa, de estabelecimento
público, de quartel, etc. tendo em conta as condições existentes no
estrangeiro, a Internacional Comunista se viu obrigada a adotar uma forma
complementar de organização: as células de rua. Estas células de rua estavam
destinadas às serventes, aos pequenos artesãos, etc. elas deviam levar a ação
comunista por bairro. As células de rua deviam compreender os membros do
Partido desempregados até o momento em que encontrassem emprego. Não se podia
obrigar um comunista parado a assistir as reuniões da célula da empresa onde
tivesse trabalhado (admitindo que essa célula existisse) quando nem sequer
tinha o dinheiro necessário para a viagem. As células de rua tarefas bem
determinadas: ir de casa em casa, distribuir volantes, ajudar nas campanhas
eleitorais a pôr de fora o trabalho das células de fábrica.
Nas grandes cidades do estrangeiro,
acontece que o operário trabalha na cidade e vive nos subúrbios. Às vezes,
inclusive em um povoado a algumas dezenas de quilômetros da cidade. À noite e
nos dias festivos, os membros do Partido que moram longe de seu lugar de trabalho
devem ser utilizados pelas células de rua e os comitês de zona para o trabalho
do Partido em seu bairro respectivo. Mesmo assim, o trabalho fundamental desses
membros do Partido segue sendo o trabalho nas células de suas empresas.
Mas, em lugar de fazer dela uma
organização auxiliar, os partidos comunistas têm dado sua preferência à célula
de rua. Se dedicam a criar células de rua até que estas agrupem na realidade
80% dos efetivos do Partido, às vezes mais. Em outros termos, os partidos
comunistas encontraram uma fenda pela qual tentam passar a antiga forma de
organização antiquada dos membros do Partido por local de habitação. E toda a
luta travada pela seção de organização do Comitê Executivo da Internacional
Comunista, durante cinco anos, para que os partidos comunistas revisem a
composição de suas células de rua e eliminem delas os que trabalharem nas
empresas, não deu nenhum resultado. Se tomarmos as cifras do Partido Comunista
alemão, no final de dezembro de 1931, 1.983 células de empresa e 6.196 células
de rua.
Baseando-nos em seus efetivos, pode-se
dizer que são consideráveis, mas pouco ativos. Noutros casos, para não
organizar células nas empresas, se constituíram grupos de concentração.
Reúnem-se alguns comunistas de muitas fábricas e empresas e se constitui um
grupo para realizar trabalho nestas empresas. Esta forma de organização está
muito difundida na Inglaterra, mas não dá os resultados que poderiam dar as
células de empresa. Na França se procede dessa maneira: a um ou dois operários
de uma empresa são agregados de doze a dezesseis membros do Partido que
trabalham fora. E a isso se chama uma célula de empresa! Estes doze ou
dezesseis membros do Partido, na maioria das vezes estimando que na empresa se
ocupam de futilidades, fazem com que a célula se interesse naturalmente por
tudo, menos pela empresa.
As
dificuldades do trabalho nas células comunistas nas empresas dos países
capitalistas e os métodos para vencê-las
A ação nas empresas tropeça evidentemente
com grandes dificuldades, as quais os professores que ensinam os princípios de
organização do Partido não devem ignorar. Na Rússia czarista, o Partido
Bolchevique era ilegal, assim como as células. Estas não saíram da ilegalidade
senão quando o Partido se tornou legal. Outra coisa ocorre no estrangeiro. Nos
principais países capitalistas, os partidos comunistas militam legalmente, mas
as células devem trabalhar clandestinamente. Por desgraça não conseguem
trabalhar sem serem descobertos. Os patrões e seus espiões vigiam
constantemente os operários revolucionários e os expulsam das empresas sem o
menor protesto dos sindicatos reformistas. Ao contrário, estes últimos são
muito amiúde os instigadores da demissão dos comunistas. Dado que por regra
geral os comunistas empreendem uma ação demasiado débil nas empresas, os
operários não tomam a defesa dos comunistas despedidos (ocorrem, bem entendido,
casos contrários).
Em tais condições, as células de empresa
não fazem, na maioria das vezes, nada, ou então seus membros são expulsos da
fábrica ao menor gesto, sendo incapazes fazer um trabalho clandestino por
insignificante que seja. Amiúde ocorre que os comunistas são expulsos da
empresa sem que tenham travado nela nenhuma ação, simplesmente porque são do
Partido. Nossos professores nas escolas comunistas internacionais devem ter em
conta esta dificuldade e indicar aos alunos, no curso do estudo do trabalho dos
partidos legais, como tais células podem e devem organizar sua ação, pois nesse
domínio pode ser aplicada a experiência bolchevique do trabalho ilegal nas
fábricas sob o czarismo, trabalho que na ocasião dava excelentes resultados.
Não se pode ver isso como um simples detalhe. Se o Partido Comunista não souber
fazer um trabalho clandestino nas empresas, fica exposto a perder os comunistas
e os operários revolucionários despedidos.
Certos comunistas consideram estranho que
os social-democratas, os nacionalistas e os membros de outros partidos possam
nomear-se abertamente, enquanto que eles, sendo legal o Partido Comunista,
devem dissimular que pertencem ao Partido. Essa dissimulação é preguiça ou
oportunismo de direita? De maneira nenhuma. Seria oportunismo ou preguiça se os
membros da célula ou certos comunistas temessem e evitassem tomar a palavra
contra os social-democratas e reformistas nas reuniões de fábrica, quando estes
propõem aceitar o rebaixamento do nível de vida dos operários, aprovar
demissões ou as proposições dos reformistas e dos social-democratas, etc..
Isso, desgraçadamente, ocorre. Mas não é absolutamente necessário gritar pela
fábrica que se é comunista, ainda mais quando isso não vai sempre acompanhado
de um trabalho comunista. Pode-se e deve-se levar a cabo um verdadeiro trabalho
de partido ligando as consignas deste último à luta cotidiana nas empresas sem
revelar sua qualidade de membro do Partido ou da célula.
Para isso sempre é possível encontrar
fórmulas apropriadas. Por acaso é impossível dizer: “Hoje li tais notícias”, ou
melhor: “um operário de nossa fábrica ou da fábrica vizinha me disse isto...”,
etc.? Em uma palavra, tudo deve ser apresentado dentro do espírito das decisões
da célula do Partido, mas sob uma forma velada, até “inocente”. Inclusive se
alguém, por ordem da célula, intervém em uma reunião geral dos operários da
empresa, nem sempre é indispensável que declare estar falando em nome da
célula. O essencial é que seu discurso seja dito no sentido das decisões da
célula e que suas proposições sejam elaboradas ou aprovadas pelo Birô da
célula. Os outros membros e simpatizantes devem não somente votar pelas
proposições feitas pelos camaradas designados pela célula, mas também levar a
cabo uma propaganda em favor destas proposições entre os operários. Nos
partidos ilegais acontece diferente, pois tanto o Partido como as células são
ilegais. Mas inclusive nos partidos ilegais desgraçadamente se dissimula muito
mal a atividade da célula.
Como
o Partido Bolchevique defendia os interesses econômicos dos operários
Na Rússia czarista, o regulamento e o
regime das empresas eram relativamente anódinos com relação ao regulamento das
empresas dos grandes países capitalistas, sobretudo nas condições atuais,
depois da racionalização capitalista, que esgota os operários, e da aplicação
do trabalho em cadeia. A burguesia, antes da derrocada do czarismo, pagava
muito mal aos operários. Mas estes travavam uma luta tão enérgica contra o
rigor do regulamento interior das empresas que os fabricantes deviam, no fim
das contas, renunciar a aplicar a taylorização(2) e qualquer outro sistema de
exploração dos operários. Isso facilitava o trabalho do Partido nas empresas.
Além disso, os operários, pertencessem ao partido socialista que fosse, se
juntavam com os operários bolcheviques na frente de luta econômica e política
(greves, manifestações e até insurreições).
Mas isso não quer dizer que o Partido
Bolchevique, que as células de empresa, que os bolcheviques isolados seguiam a
corrente e dissimulavam nas empresas os princípios bolcheviques. Pelo
contrário, tanto nas fábricas como nos periódicos e nos volantes ilegais, os
bolcheviques levavam a cabo uma campanha encarniçada contra os mencheviques, os
liquidadores, o trotskismo, os SR, os socialistas-populistas, etc. Os
bolcheviques, por sua agitação persuasiva, por seus argumentos nas discussões
com os membros de outros partidos, por suas proposições motivadas e oportunas,
pelo conhecimento da situação dos operários nas empresas, por seus métodos de
trabalho, pela atração dos operários a participar na solução dos diferentes
problemas, por uma preparação minuciosa da luta, por seus métodos de
organização, demonstravam a justeza e a superioridade de sua ação sobre as dos
outros partidos. É por isso que o Partido Bolchevique logrou construir nas
fábricas e nas empresas a frente única na base com os operários de todas as
tendência durante todo o período da história do movimento operário da Rússia,
inclusive no momento em que, em 1913-1914, os mencheviques reprovavam aos
bolcheviques que “jogavam às greves”, inclusive sob Kerenski, no mês de agosto
de 1917, na ocasião da greve geral organizada pelos bolcheviques contra a Assembleia
Governamental de Moscou na qual se penduravam os mencheviques e os SR e, mais
tarde, durante as jornadas de outubro de 1917, quando os bolcheviques
desencadearam a insurreição contra a burguesia, os mencheviques e os SR.
Os partidos comunistas de hoje em dia
carecem de algumas condições favoráveis. Mas é assim que devem travar a luta
econômica, e não somente a luta econômica, contra os social-democratas, os
burocratas sindicais reformistas, os fascistas, os amarelos, pois todos eles
são aliados dos patrões. A menor imprudência que cometam, os comunistas, assim
como os membros da oposição sindical e dos sindicatos vermelhos, são lançados
às portas das fábricas. Isto obriga a aplicar métodos de trabalho que devem dar
na luta do proletariado revolucionário o máximo de efeito e o mínimo de perdas.
Estes métodos não podem ser mais que os
métodos bolcheviques experimentados. Os comunistas têm o dever de superar todas
as dificuldades. Quanto mais dificuldades, mais deve-se levar a cabo um
trabalho comunista perseverante e minucioso na empresa, em suas portas e onde
houver operários e desempregados. Os métodos e o conteúdo do trabalho devem ser
bolcheviques. É mister persuadir sistematicamente, com argumentos convincentes
e probatórios, e não com injúrias, os que pensam de outra maneira, sobretudo os
social-democratas e os operários reformistas. É preciso desmascarar
sistematicamente, com as provas nas mãos, em termos simples e inteligíveis, a
social-democracia e os reformistas, mas ao mesmo tempo é necessário não
esquecer dos nacional-socialistas e em geral a todos os partidos adversos que
tenham uma base operária. Mas só a propaganda não basta.
É preciso organizar a luta, provar aos
operários que os comunistas sabem combater e paralisar as manobras dos
social-democratas e dos reformistas. Pode-se conseguir isso aplicando os
métodos bolcheviques de trabalho e de organização, não de uma maneira mecânica,
mas tendo em conta a situação. Atualmente, quando a situação dos operários de
todos os países capitalista tem se agravado incrivelmente e há milhões de
desempregados, quando todas as consequências da crise econômica e financeira,
às quais se acrescentam os gastos para a preparação das guerras imperialistas e
da agressão contra a URSS, recaem sobre os trabalhadores, o Partido Comunista
tem a possibilidade e o dever absoluto de superar todas as dificuldades e de
melhorar seu trabalho.
*Trecho do artigo “Com Forjar um Partido Bolchevique”.
**Osip Piatnitsky(1882-1938): membro
do POSDR desde 1898, bolchevique, correspondente do Iskra, emigrou em 1902 após
se evadir da prisão de Kiev. Em 1905 é membro do comité do partido em Odessa,
depois em Moscou, voltando a emigrar em 1908 para Genebra. De novo na Rússia, é
deportado em 1914, tornando-se membro do Comité Executivo do Soviete de Moscou
em 1917. Membro do bureau do Comité de Moscou (1918-22), do CC do PCUS a partir
de 1927 (candidato desde 1920), da Comissão Central de Controlo (1924-27) e
responsável de secção no CC a partir de 1935. Foi membro do Comitê Executivo da
Internacional Comunista desde 1924 e do seu Presidium a partir de 1928. Em 1937
é preso, excluído do CC em outubro, foi julgado e condenado a fuzilamento
(executado em 29 de junho de 1938), não sendo conhecidos detalhes do seu
processo.
Notas de rodapé:
(1) Na Inglaterra são
chamados assim os comitês de fábrica, organizados durante a guerra imperialista
na Escócia. No Congresso de Greds (abril de 1921) os "Shop Steward
Commitees" se fundiram com o Partido Comunista. (N. do T. espanhol)
(2) O sistema Taylor ou
racionalização da produção foi introduzido primeiro no USA. Consiste na
intensificação do trabalho e em seu maior rendimento. (N. do T. espanhol)
Edição: Que Fazer
Fonte:https://www.marxists.org/portugues/piatnitsky/1930/mes/forjar.htm