15.11.21

Como Forjar um Partido Bolchevique*

Osip Piatnitsky**

1930


Osip Piatnitsky

As formas bolcheviques e social-democratas de organização do Partido

     Até 1905 não houve na Rússia czarista eleições nem campanha eleitoral. Nem os camponeses nem os operários participavam das eleições dos zemstvos ou das municipalidades urbanas. Não possuíam o direito de voto. Depois de 1905, quando, em razão das eleições para a Duma se elaboraram condições especiais para os operários, foram criadas divisões especiais e os operários votavam por empresa e por fábrica.

     Uma situação ilegal de todos os partidos até 1905, uma ausência de campanhas eleitorais e ao mesmo tempo (o qual é essencial) uma posição justa dos bolcheviques na questão da organização do Partido (o recrutamento para o Partido de operários de fábricas e de empresas, a criação de círculos de estudos políticos e gerais, tais foram na Rússia czarista as particularidades da formação do Partido bolchevique. A situação ilegal do Partido bolchevique, além das razões já mencionadas, o impulsionava a criar os grupos do Partido nas empresas, pelo fato de que era mais fácil e cômodo militar. A edificação do Partido começou, pois, nas fábricas e nas empresas. Isso deu brilhantes resultados, tanto nos anos de reação e depois da revolução de fevereiro como, particularmente, no curso da revolução de outubro, em 1917, da guerra civil e da grande construção do socialismo.

     Durante a reação, depois de 1908, quando os comitês locais do Partido e sua direção (o Comitê Central) eram aniquilados periodicamente, nem por isso sua base deixava de se manter firme nas fábricas e empresas. As células do Partido continuavam a ação. Depois da revolução de fevereiro, as eleições dos sovietes de deputados operários também eram realizadas por fábrica e por empresa. É importante destacar que as eleições para as dumas das cidades e bairros e para a Assembleia Constituinte tinham lugar não por empresa, mas por domicílio dos eleitores. Mesmo assim, depois das revoluções de fevereiro e de outubro o Partido bolchevique obteve os mesmos êxitos apesar de não ter organizações de bairro e de concentrar sua agitação nas empresas e nos quartéis. As células, os comitês de zona, e os comitês de cidade fizeram a campanha eleitoral sem constituir organizações especiais para as eleições por bairro. O Partido Bolchevique sempre tinha suas organizações de base no local de trabalho de seus membros.

     Outra coisa ocorria no estrangeiro. Ali as eleições ocorriam não por empresa, mas por distrito, pelo domicílio dos eleitores. A tarefa principal que os partidos socialistas se propunham era de organizar bem a campanha eleitoral e de lutar pela cédula eleitoral. Por esta razão, o Partido estava igualmente organizado no local de habitação de seus membros, a fim de facilitar seu agrupamento para realizar a campanha nas circunscrições eleitorais.

Ligação dos partidos social-democratas com as empresas

Mas não se pode dizer que os partidos social-democratas não estavam ligados às fábricas e empresas. Estavam ligados por intermédio dos sindicatos, à cabeça dos quais se encontravam membros do Partido Social-Democrata. Apesar de que os sindicatos não estivessem organizados sobre a base das empresas, elas tinham seus delegados, seus tesoureiros, e como em sua maioria eles eram delegados e tesoureiros sindicais social-democratas, os partidos social-democratas, por intermédio destes delegados, pelos sindicatos, estavam ligados às empresas. Quando apareceram os partidos comunistas (em certos países, em consequência da cisão e da saída dos partidos social-democratas; em outros, como na Tchecoslováquia e na França, depois que a maioria decidiu aderir à Internacional Comunista, a minoria teve que se organizar em partido social-democrata) formaram suas organizações sobre o modelo social-democrata. E isso apesar dos partidos comunistas terem se proposto, a partir de sua existência, objetivos distintos dos partidos social-democratas. Eles se propunham derrubar a burguesia e conquistar o poder pelo proletariado, enquanto a social-democracia internacional, depois de ter apoiado a burguesia durante a guerra, havia se convertido em sua principal sustentação depois da guerra.

     Mesmo assim, os partidos comunistas construíram sua organização como os social-democratas, por circunscrição eleitoral, por local de habitação dos membros do Partido e dos eleitores. Acrescente-se que não possuíam suas organizações sindicais e que onde as criaram, estas não tiveram nem têm até agora sólidos laços de organização com as empresas. Deste modo, as organizações do Partido Comunista nos países capitalistas estavam organizadas sem ligação permanente de organização com as empresas. É aí o principal defeito de organização dos partidos comunistas, que deve ser destacado claramente pelos professores que ensinam nas escolas do Partido. As tarefas dos partidos comunistas eram outras, mas suas organizações tinham a mesma estrutura que as dos social-democratas. Se os social-democratas estavam ligados às empresas por intermédio dos sindicatos, os partidos comunistas nem sequer possuíam uma organização semelhante, e isso é igualmente válido, inclusive para partidos comunistas que têm uma grande influência nos sindicatos vermelhos (Partido Comunista Tchecoslovaco, Partido Comunista Francês). Desde sua aparição, os partidos comunistas adotaram as formas de organização do Partido Bolchevique. Mas durante e imediatamente depois da guerra, em muitos países, os operários nomearam delegados revolucionários (na Alemanha desempenharam um grande papel no curso das greves durante a guerra), elegiam comitês de empresa (por exemplo, os shop stewards(1) na Inglaterra), e inclusive envia seus delegados aos sovietes. Desta maneira puderam se convencer das vantagens da organização dos operários por local de trabalho com relação à organização dos operários por local de habitação. Mas quando a tempestade revolucionária se acalmou, as tradições social-democratas recuperaram sua posição predominante sobre as formas de organização similares às formas bolcheviques de trabalho nas empresas. Isso é o que explica porque os partidos comunistas, e em particular as organizações de zona e de base do Partido, as organizações sindicais revolucionárias e os quadros que assumem de fato o grosso do trabalho revolucionário e do trabalho do Partido, renunciaram então aos métodos quase bolcheviques do trabalho nas empresas. E hoje em dia, ao não encontrar a resistência necessária nos dirigentes do Partido, se opõem a estes métodos, mesmo tendo demonstrado sua superioridade sobre os métodos social-democratas.

     O exemplo de 1923, quando o Partido não aproveitou a situação revolucionária para derrubar a burguesia, não somente porque faltava uma verdadeira direção revolucionária, mas por carência de ligação ampla e sólida com os operários das fábricas e empresas, basta para provarmos que a ausência de organização do Partido nas empresas influi poderosamente no trabalho do Partido Comunista. Em 1923, a social-democracia alemã havia se debilitado consideravelmente. Seus efetivos baixavam de uma maneira inaudita. Os sindicatos reformistas contavam, em 1922, com 9 milhões de membros... (7.895,065 na Confederação do Trabalhador e o resto no Sindicato de Funcionários). Em 1923 não conservavam mais que 3 milhões de membros. O aparato dos sindicatos reformistas se desagregava. Já não se pagava aos funcionários. Nesse momento o Partido Comunista Alemão teria podido se assenhorar do poder se tivesse uma direção revolucionária, se tivesse travado uma luta verdadeira contra o partido social-democrata e os reformistas, e se tivesse estado com as empresas, se as tivesse mobilizado empregando a tática revolucionária da frente única na luta pela ditadura do proletariado, em lugar da frente única de Brandler com os social democratas saxões de “esquerda” e seu governo Zeigner. A conferência convocada em 1923 pela direção oportunista de Brandler para decidir se era preciso obrar ou não, reuniu em sua maioria funcionários do Partido, chefes do movimento cooperativo e sindical entre os quais figuravam bom número de oportunistas de direita do tipo Brandler, Talheimer e Walcher, sem ligação com as massas. Eles ignoravam a vida e o estado de ânimo das massas operárias e foi esta conferência a que decidiu não intervir.

As células de Empresa e de rua

     Na Rússia czarista as células (ou os bolcheviques isolados nas empresas onde não havia células) tiravam proveito de todas as reprimendas dos patrões: a brutalidade dos contramestres, os erros intencionais no pagamento dos salários, as multas, a negativa de pagar o subsídio por acidente de trabalho, etc. Propaganda era feita nas oficinas, eram distribuídos volantes, comícios eram organizados nos pátios e nas portas de fábricas, assim como reuniões de operários simpatizantes e revolucionários. Os bolcheviques imputavam os acidentes nas empresas ao regime autocrático, porquanto os operários experimentavam em suas costas o chicote dos mercenários do czar, o presídio e a deportação por seus protestos e suas greves contra os patrões. Ao mesmo tempo, as células, em sua agitação, ligavam a autocracia ao regime capitalista e devido a isso é que, desde o começo mesmo do movimento, os bolcheviques ligavam as reivindicações econômicas às reivindicações políticas, e a luta econômica à luta política.

     Quando o estado de ânimo dos operários era favorável à greve, as células bolcheviques se punham à cabeça do movimento. As greves se propagavam de uma oficina a outra, de uma fábrica a outra, enquanto que, sob a direção e a influência das organizações do Partido Bolchevique, estes movimentos de greve tomavam amiúde a forma de manifestações de rua. Deste modo, as greves econômicas se transformavam em uma batalha política. A história do movimento operário na Rússia czarista viu mais de uma greve isolada de empresa se transformar em greves de todas as empresas de uma cidade e se estender a outras cidades. Todas estas greves, em que pese o trabalho clandestino dos bolcheviques, custavam enormes sacrifícios da parte desses e dos operários revolucionários. Mas com o exemplo destas vítimas, se formavam sem cessar novos quadros na luta e na ação cotidiana para continuar a batalha. As células bolcheviques se converteram assim nas organizações da luta das massas no terreno econômico e político.

     Em 1921, o terceiro Congresso da Internacional Comunista formulou as primeiras teses sobre a organização dos partidos comunistas nos países capitalistas. Até 1924 os partidos comunistas fizeram ouvidos de mercador. Atualmente existem em todos os partidos comunistas células de empresa que, mesmo assim, sobretudo nos partidos comunistas legais, passam o tempo sem fazer nenhum trabalho prático nas empresas. As tradições social-democratas na estrutura do Partido se arraigaram de tal maneira nas filas do Partido comunista que dominam os membros do Partido, inclusive quando aplicam os princípios de organização. Existem em muitos lugares células de empresa do Partido, mas se acham longe de modificar os métodos de seu trabalho. Discutem as questões do Partido, participam nas campanhas de reeleição dos comitês de empresa, inclusive às vezes editam jornais de fábrica, mas não se ocupam das questões da empresa, não se dedicam a uma propaganda verbal individual nas oficinas, na porta das fábricas, nos trens nos quais viajam os operários. Raramente organizam comícios por ocasião das reuniões convocadas pelos comitês operários de empresa, onde tomam a palavra os reformistas e os social-democratas e onde, mais que em qualquer outro lugar, pode-se demonstrar e provar sua traição. As células de empresa não dirigem nem controlam o trabalho dos comunistas nos comitês sindicais de empresa dirigidos pelos reformistas.

     Deixam os comitês vermelhos sem direção e é por essa causa que frequentemente não trabalham melhor que os comitês reformistas. As principais campanhas dos sindicatos e do Partido não são travadas por meio das células de empresa. Inclusive as campanhas pelas eleições municipais, legislativas e as eleições para o Landtag que ocorrem com bastante frequência, não são levadas a cabo, até agora, pelas células de empresa, mas pelas de fábrica. Em consequência disso, ocorre amiúde que as células de empresa só conhecem a declaração das greves nas oficinas e inclusive nas fábricas onde trabalham seus membros até depois que estalam. Inclusive quando as células de empresa, os grupos de oposição sindical e os sindicatos vermelhos preparam as greves, uma vez eleito o comitê de greve, as células e os grupos sindicais abandonam a direção e cessam de existir como organizações. Os reformistas aproveitam naturalmente esta situação.

     Pode-se dizer o mesmo da maioria das células de empresa dos países capitalistas. Isso não significa que ali não tenha células que trabalham admiravelmente e que demonstram que o sistema das células de empresa é superior à estrutura social-democrata de organização do Partido. Mas, desgraçadamente, essas células constituem uma minoria. A enorme maioria das células de empresa não funcionam e, no melhor dos casos, funcionam mal. Um fenômeno bastante corrente até a data é que a célula não agrupa os membros do Partido na empresa. O Partido Bolchevique não conhecia mais que apenas uma organização de base: a célula de empresa, de estabelecimento público, de quartel, etc. tendo em conta as condições existentes no estrangeiro, a Internacional Comunista se viu obrigada a adotar uma forma complementar de organização: as células de rua. Estas células de rua estavam destinadas às serventes, aos pequenos artesãos, etc. elas deviam levar a ação comunista por bairro. As células de rua deviam compreender os membros do Partido desempregados até o momento em que encontrassem emprego. Não se podia obrigar um comunista parado a assistir as reuniões da célula da empresa onde tivesse trabalhado (admitindo que essa célula existisse) quando nem sequer tinha o dinheiro necessário para a viagem. As células de rua tarefas bem determinadas: ir de casa em casa, distribuir volantes, ajudar nas campanhas eleitorais a pôr de fora o trabalho das células de fábrica.

     Nas grandes cidades do estrangeiro, acontece que o operário trabalha na cidade e vive nos subúrbios. Às vezes, inclusive em um povoado a algumas dezenas de quilômetros da cidade. À noite e nos dias festivos, os membros do Partido que moram longe de seu lugar de trabalho devem ser utilizados pelas células de rua e os comitês de zona para o trabalho do Partido em seu bairro respectivo. Mesmo assim, o trabalho fundamental desses membros do Partido segue sendo o trabalho nas células de suas empresas.

     Mas, em lugar de fazer dela uma organização auxiliar, os partidos comunistas têm dado sua preferência à célula de rua. Se dedicam a criar células de rua até que estas agrupem na realidade 80% dos efetivos do Partido, às vezes mais. Em outros termos, os partidos comunistas encontraram uma fenda pela qual tentam passar a antiga forma de organização antiquada dos membros do Partido por local de habitação. E toda a luta travada pela seção de organização do Comitê Executivo da Internacional Comunista, durante cinco anos, para que os partidos comunistas revisem a composição de suas células de rua e eliminem delas os que trabalharem nas empresas, não deu nenhum resultado. Se tomarmos as cifras do Partido Comunista alemão, no final de dezembro de 1931, 1.983 células de empresa e 6.196 células de rua.

     Baseando-nos em seus efetivos, pode-se dizer que são consideráveis, mas pouco ativos. Noutros casos, para não organizar células nas empresas, se constituíram grupos de concentração. Reúnem-se alguns comunistas de muitas fábricas e empresas e se constitui um grupo para realizar trabalho nestas empresas. Esta forma de organização está muito difundida na Inglaterra, mas não dá os resultados que poderiam dar as células de empresa. Na França se procede dessa maneira: a um ou dois operários de uma empresa são agregados de doze a dezesseis membros do Partido que trabalham fora. E a isso se chama uma célula de empresa! Estes doze ou dezesseis membros do Partido, na maioria das vezes estimando que na empresa se ocupam de futilidades, fazem com que a célula se interesse naturalmente por tudo, menos pela empresa.

As dificuldades do trabalho nas células comunistas nas empresas dos países capitalistas e os métodos para vencê-las

     A ação nas empresas tropeça evidentemente com grandes dificuldades, as quais os professores que ensinam os princípios de organização do Partido não devem ignorar. Na Rússia czarista, o Partido Bolchevique era ilegal, assim como as células. Estas não saíram da ilegalidade senão quando o Partido se tornou legal. Outra coisa ocorre no estrangeiro. Nos principais países capitalistas, os partidos comunistas militam legalmente, mas as células devem trabalhar clandestinamente. Por desgraça não conseguem trabalhar sem serem descobertos. Os patrões e seus espiões vigiam constantemente os operários revolucionários e os expulsam das empresas sem o menor protesto dos sindicatos reformistas. Ao contrário, estes últimos são muito amiúde os instigadores da demissão dos comunistas. Dado que por regra geral os comunistas empreendem uma ação demasiado débil nas empresas, os operários não tomam a defesa dos comunistas despedidos (ocorrem, bem entendido, casos contrários).

     Em tais condições, as células de empresa não fazem, na maioria das vezes, nada, ou então seus membros são expulsos da fábrica ao menor gesto, sendo incapazes fazer um trabalho clandestino por insignificante que seja. Amiúde ocorre que os comunistas são expulsos da empresa sem que tenham travado nela nenhuma ação, simplesmente porque são do Partido. Nossos professores nas escolas comunistas internacionais devem ter em conta esta dificuldade e indicar aos alunos, no curso do estudo do trabalho dos partidos legais, como tais células podem e devem organizar sua ação, pois nesse domínio pode ser aplicada a experiência bolchevique do trabalho ilegal nas fábricas sob o czarismo, trabalho que na ocasião dava excelentes resultados. Não se pode ver isso como um simples detalhe. Se o Partido Comunista não souber fazer um trabalho clandestino nas empresas, fica exposto a perder os comunistas e os operários revolucionários despedidos.

     Certos comunistas consideram estranho que os social-democratas, os nacionalistas e os membros de outros partidos possam nomear-se abertamente, enquanto que eles, sendo legal o Partido Comunista, devem dissimular que pertencem ao Partido. Essa dissimulação é preguiça ou oportunismo de direita? De maneira nenhuma. Seria oportunismo ou preguiça se os membros da célula ou certos comunistas temessem e evitassem tomar a palavra contra os social-democratas e reformistas nas reuniões de fábrica, quando estes propõem aceitar o rebaixamento do nível de vida dos operários, aprovar demissões ou as proposições dos reformistas e dos social-democratas, etc.. Isso, desgraçadamente, ocorre. Mas não é absolutamente necessário gritar pela fábrica que se é comunista, ainda mais quando isso não vai sempre acompanhado de um trabalho comunista. Pode-se e deve-se levar a cabo um verdadeiro trabalho de partido ligando as consignas deste último à luta cotidiana nas empresas sem revelar sua qualidade de membro do Partido ou da célula.

     Para isso sempre é possível encontrar fórmulas apropriadas. Por acaso é impossível dizer: “Hoje li tais notícias”, ou melhor: “um operário de nossa fábrica ou da fábrica vizinha me disse isto...”, etc.? Em uma palavra, tudo deve ser apresentado dentro do espírito das decisões da célula do Partido, mas sob uma forma velada, até “inocente”. Inclusive se alguém, por ordem da célula, intervém em uma reunião geral dos operários da empresa, nem sempre é indispensável que declare estar falando em nome da célula. O essencial é que seu discurso seja dito no sentido das decisões da célula e que suas proposições sejam elaboradas ou aprovadas pelo Birô da célula. Os outros membros e simpatizantes devem não somente votar pelas proposições feitas pelos camaradas designados pela célula, mas também levar a cabo uma propaganda em favor destas proposições entre os operários. Nos partidos ilegais acontece diferente, pois tanto o Partido como as células são ilegais. Mas inclusive nos partidos ilegais desgraçadamente se dissimula muito mal a atividade da célula.

Como o Partido Bolchevique defendia os interesses econômicos dos operários

     Na Rússia czarista, o regulamento e o regime das empresas eram relativamente anódinos com relação ao regulamento das empresas dos grandes países capitalistas, sobretudo nas condições atuais, depois da racionalização capitalista, que esgota os operários, e da aplicação do trabalho em cadeia. A burguesia, antes da derrocada do czarismo, pagava muito mal aos operários. Mas estes travavam uma luta tão enérgica contra o rigor do regulamento interior das empresas que os fabricantes deviam, no fim das contas, renunciar a aplicar a taylorização(2) e qualquer outro sistema de exploração dos operários. Isso facilitava o trabalho do Partido nas empresas. Além disso, os operários, pertencessem ao partido socialista que fosse, se juntavam com os operários bolcheviques na frente de luta econômica e política (greves, manifestações e até insurreições).

     Mas isso não quer dizer que o Partido Bolchevique, que as células de empresa, que os bolcheviques isolados seguiam a corrente e dissimulavam nas empresas os princípios bolcheviques. Pelo contrário, tanto nas fábricas como nos periódicos e nos volantes ilegais, os bolcheviques levavam a cabo uma campanha encarniçada contra os mencheviques, os liquidadores, o trotskismo, os SR, os socialistas-populistas, etc. Os bolcheviques, por sua agitação persuasiva, por seus argumentos nas discussões com os membros de outros partidos, por suas proposições motivadas e oportunas, pelo conhecimento da situação dos operários nas empresas, por seus métodos de trabalho, pela atração dos operários a participar na solução dos diferentes problemas, por uma preparação minuciosa da luta, por seus métodos de organização, demonstravam a justeza e a superioridade de sua ação sobre as dos outros partidos. É por isso que o Partido Bolchevique logrou construir nas fábricas e nas empresas a frente única na base com os operários de todas as tendência durante todo o período da história do movimento operário da Rússia, inclusive no momento em que, em 1913-1914, os mencheviques reprovavam aos bolcheviques que “jogavam às greves”, inclusive sob Kerenski, no mês de agosto de 1917, na ocasião da greve geral organizada pelos bolcheviques contra a Assembleia Governamental de Moscou na qual se penduravam os mencheviques e os SR e, mais tarde, durante as jornadas de outubro de 1917, quando os bolcheviques desencadearam a insurreição contra a burguesia, os mencheviques e os SR.

     Os partidos comunistas de hoje em dia carecem de algumas condições favoráveis. Mas é assim que devem travar a luta econômica, e não somente a luta econômica, contra os social-democratas, os burocratas sindicais reformistas, os fascistas, os amarelos, pois todos eles são aliados dos patrões. A menor imprudência que cometam, os comunistas, assim como os membros da oposição sindical e dos sindicatos vermelhos, são lançados às portas das fábricas. Isto obriga a aplicar métodos de trabalho que devem dar na luta do proletariado revolucionário o máximo de efeito e o mínimo de perdas.

     Estes métodos não podem ser mais que os métodos bolcheviques experimentados. Os comunistas têm o dever de superar todas as dificuldades. Quanto mais dificuldades, mais deve-se levar a cabo um trabalho comunista perseverante e minucioso na empresa, em suas portas e onde houver operários e desempregados. Os métodos e o conteúdo do trabalho devem ser bolcheviques. É mister persuadir sistematicamente, com argumentos convincentes e probatórios, e não com injúrias, os que pensam de outra maneira, sobretudo os social-democratas e os operários reformistas. É preciso desmascarar sistematicamente, com as provas nas mãos, em termos simples e inteligíveis, a social-democracia e os reformistas, mas ao mesmo tempo é necessário não esquecer dos nacional-socialistas e em geral a todos os partidos adversos que tenham uma base operária. Mas só a propaganda não basta.

     É preciso organizar a luta, provar aos operários que os comunistas sabem combater e paralisar as manobras dos social-democratas e dos reformistas. Pode-se conseguir isso aplicando os métodos bolcheviques de trabalho e de organização, não de uma maneira mecânica, mas tendo em conta a situação. Atualmente, quando a situação dos operários de todos os países capitalista tem se agravado incrivelmente e há milhões de desempregados, quando todas as consequências da crise econômica e financeira, às quais se acrescentam os gastos para a preparação das guerras imperialistas e da agressão contra a URSS, recaem sobre os trabalhadores, o Partido Comunista tem a possibilidade e o dever absoluto de superar todas as dificuldades e de melhorar seu trabalho.

*Trecho do artigo “Com Forjar um Partido Bolchevique”.

**Osip Piatnitsky(1882-1938): membro do POSDR desde 1898, bolchevique, correspondente do Iskra, emigrou em 1902 após se evadir da prisão de Kiev. Em 1905 é membro do comité do partido em Odessa, depois em Moscou, voltando a emigrar em 1908 para Genebra. De novo na Rússia, é deportado em 1914, tornando-se membro do Comité Executivo do Soviete de Moscou em 1917. Membro do bureau do Comité de Moscou (1918-22), do CC do PCUS a partir de 1927 (candidato desde 1920), da Comissão Central de Controlo (1924-27) e responsável de secção no CC a partir de 1935. Foi membro do Comitê Executivo da Internacional Comunista desde 1924 e do seu Presidium a partir de 1928. Em 1937 é preso, excluído do CC em outubro, foi julgado e condenado a fuzilamento (executado em 29 de junho de 1938), não sendo conhecidos detalhes do seu processo.

Notas de rodapé:

(1) Na Inglaterra são chamados assim os comitês de fábrica, organizados durante a guerra imperialista na Escócia. No Congresso de Greds (abril de 1921) os "Shop Steward Commitees" se fundiram com o Partido Comunista. (N. do T. espanhol)

(2) O sistema Taylor ou racionalização da produção foi introduzido primeiro no USA. Consiste na intensificação do trabalho e em seu maior rendimento. (N. do T. espanhol)

Edição: Que Fazer

Fonte:https://www.marxists.org/portugues/piatnitsky/1930/mes/forjar.htm

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O processo de construção socialista e nacional no Cazaquistão e na Ásia Central

  Conclusões atuais Ainur Kurmanov , co-presidente do Movimento Socialista do Cazaquistão Bandeira do Cazaquistão na era soviética. ...