26.9.21

O que é oportunismo? (Notas linguísticas)

Gabriel Landi Fazzio

24/9/2021

 

Mas Monitor representa apenas uma das variedades do oportunismo: aberta, grosseira, cínica. As outras atuam dissimuladamente, sutilmente, ‘honestamente’. Engels disse uma vez: os oportunistas ‘honestos’ são os mais perigosos para a classe operária…” (Lênin, em O oportunismo e a falência da II Internacional, citando Engels, Para a crítica do projeto de programa social-democrata de 1891).



Nos países de língua latina, algumas palavras-chave do marxismo são vítimas de grandes ironias e inversões. Por exemplo: para o senso comum brasileiro, os revolucionários comunistas são “idealistas”; e as pessoas “materialistas” são aquelas que só se importam com suas riquezas individuais. A filosofia marxista, por sua vez, entende essas palavras de modo completamente diferente.

Evidentemente, esse obstáculo linguístico é só uma complicação adicional no longo processo de elevação da consciência revolucionária do proletariado. A todo tempo, em todas as épocas, a educação revolucionária de uma classe dominada só pode ser realizada por si própria, em meio à luta de classes, em meio à agitação, à propaganda e à organização revolucionária independente; por meio da interação constante, paciente e prolongada entre suas diversas camadas; entre a minoria revolucionária do proletariado (aquela que Lênin chamava de intelectualidade socialista) e a massa politicamente atrasada da classe (em todos seus matizes e gradações). Para isso, é preciso que também essa camada avançada do proletariado eleve constantemente seu próprio nível de compreensão e organização, estando também em constante crescimento e enraizamento a partir desse seu trabalho. Nunca é demais, então, nos determos especialmente sobre aqueles conceitos capciosos, cujo rigor científico e teórico escorrega perigosamente por entre os dedos.

Uma dessas palavrinhas latinas que causam bastante confusão até entre os marxistas é o conceito de “oportunismo”. Em nosso país, esse conceito é carregado de um sentido moral, pessoal: dizemos que “fulano é um oportunista” quando desejamos descrever um “aproveitador”, alguém que “se dá bem” às custas da coletividade. No movimento popular, esse termo passa a descrever, então, uma pessoa que tenta utilizar a força coletiva de classe dos trabalhadores para impulsionar e obter seus interesses e vantagens pessoais. Essa carga fortemente subjetiva do conceito acaba por estreitá-lo, tornando-o pura expressão de uma vantagem pessoal: o oportunismo seria, nessa compreensão, apenas um sinônimo de carreirismo. O oportunismo é, aqui, uma agenda pessoal. Mas oportunismo não é só, e nem principalmente, a obtenção de vantagens pessoais.

É bem verdade que não faltam, na sociedade contemporânea, carreiristas de todo o tipo que tentam obter vantagens pessoais através desse ou daquele aspecto do movimento popular – não só os de tipo mais comum, como os políticos parlamentares, mas também os burocratas sindicais, advogados, ou os marxólogos acadêmicos que fazem carreira nas Universidades às custas de uma teoria sem qualquer conexão com a prática revolucionária etc. Mas, na história da política proletária revolucionária, essa forma subjetiva e mais ou menos intencional não é a forma predominante e principal que o oportunismo assume. Pelo contrário: essa forma consciente e voluntária do oportunismo (considerado como um traço de personalidade) é aquela da qual o movimento revolucionário se livra com maior rapidez e facilidade – seja porque a identifica, isola e depura; seja porque, no mais das vezes, o movimento revolucionário não dispõe de uma influência social tão massiva a ponto de atrair tanto interesse dos políticos profissionais.

Mas basta uma breve consulta à literatura revolucionária do século passado para verificar que esse aspecto incidental do oportunismo sequer é mencionado, na maioria das discussões:

A questão é puramente de princípio: a luta deve ser conduzida como uma luta de classes do proletariado contra a burguesia, ou deve ser permitido que, no bom estilo oportunista (ou, como é chamado na tradução socialista: possibilista), o caráter de classe do movimento, junto com o programa, seja posto de lado, em toda parte onde haja uma chance de ganhar mais votos, mais adeptos, por esse meio. (Carta de Engels a August Bebel, em outubro de 1882) [1]

A justa observação de Parvus, de que é difícil pegar um oportunista com a armadilha de uma simples assinatura, mais uma vez foi confirmada: facilmente ele assinará qualquer papel, e com a mesma facilidade negará tal assinatura, pois o oportunismo compreende exatamente a ausência de princípios determinados e firmes. Hoje os oportunistas repudiam toda tentativa de introduzir o oportunismo, e toda estreiteza, prometendo solenemente “não esquecer um só instante a derrubada da autocracia”, fazer “a agitação não somente contra o capital” etc., etc. E amanhã mudam o meio de expressão e retomam os velhos métodos sob o pretexto de defender a espontaneidade, a marcha progressiva da obscura luta cotidiana, exaltando as reivindicações que deixam entrever resultados tangíveis etc. (Lênin, no “Apêndice” de Que fazer?) [2]

Nossos oportunistas russos que, como todos os oportunistas, menosprezam a teoria do marxismo revolucionário e o papel do proletariado como vanguarda, vivem constantemente na ilusão de que a burguesia liberal deve ser inevitavelmente o “chefe” da revolução burguesa. Eles falham totalmente em entender o papel histórico, digamos, da Convenção na grande Revolução Francesa, como ditadura das camadas mais baixas da sociedade, do proletariado e da pequena burguesia. Eles falham totalmente em compreender a ideia da ditadura do proletariado e do campesinato como o único baluarte social possível de uma revolução burguesa russa totalmente vitoriosa. Em essência, oportunismo significa sacrificar os interesses de longo prazo e permanentes do proletariado por interesses fugazes e temporários. (Lênin, em Quem é a favor de alianças com os Kadets?) [3]

Oportunismo significa sacrificar interesses fundamentais para obter vantagens temporárias e parciais. Essa é a essência da questão, se considerarmos a definição teórica de oportunismo. Muitas pessoas se extraviaram neste ponto. No caso da Paz de Brest-Litovsk, sacrificamos os interesses da Rússia, entendidos no sentido patriótico, que eram, na verdade, secundários do ponto de vista socialista. Fizemos sacrifícios imensos e, no entanto, eles foram apenas secundários. (Lênin, em Discurso em um encontro de militantes da organização de Moscou do PCR(b)) [4]

Nenhuma palavra sequer sobre as vantagens pessoais auferidas pelos oportunistas. Engels refere-se ao eleitoralismo, mas critica-o não como fonte de vantagens pessoais para os parlamentares: mesmo se uma vitória eleitoral fosse considerada do ponto de vista coletivo, partidário, como um objetivo de interesse geral do movimento, essa vitória imediata não valia o sacrifício da agitação e da propaganda em favor dos objetivos finais revolucionários. Lênin prossegue dizendo o mesmo: o oportunismo consiste objetivamente no sacrifício dos interesses gerais do proletariado em nome de interesses momentâneos e parciais, independente das causas subjetivas desse sacrifício (que, no geral, se conectam com a debilidade dos princípios teóricos, seja no âmbito da consciência individual, seja no âmbito da firmeza ideológica coletiva). Vejamos os exemplos: no caso da penúltima citação de Lênin, a causa subjetiva do reboquismo poderia ser atribuída, simplesmente, a um erro de compreensão, a um entendimento estreito da teoria revolucionária marxista, resultado do menosprezo por ela. Já no caso comentado na última citação de Lênin, o oportunismo poderia ser resultado do mais honesto sentimento patriótico, ou seja, resultado de um interesse coletivo nacional, embora esse interesse fosse apenas parcial, do ponto de vista do proletariado internacional. E veja: Lênin acusa gente de seu próprio partido, o partido que fez a revolução, o partido já depurado dos mencheviques… de extraviar-se em direção ao oportunismo – e isso sem propor a expulsão desses “extraviados”! Como isso é possível?

Lênin compreendia que as bases do oportunismo, essa tendência à sobreposição dos interesses imediatos aos interesses finais, eram não somente ideológicas, mas materiais: justamente porque o proletariado não é um todo homogêneo, é sempre possível que os interesses corporativos de uma parte sua se sobreponham a seus interesses em conjunto. Essa heterogeneidade, na época do capitalismo monopolista, é agravada especialmente nos países centrais e nos setores dinâmicos da economia – daí todas as teorizações de Lênin sobre a chamada aristocracia operária como base material do predomínio da tendência oportunista sobre o movimento operário. [5] Disso decorre, de um ponto de vista leninista, a necessidade da cisão política do proletariado revolucionário em um partido comunista, independente não só em relação à burguesia mas também em relação ao oportunismo – que Lênin também denominou, por outras vezes, como “política liberal para operários”, ou “trade-unionismo”: uma política abertamente reformista e conciliadora, antirrevolucionária. Mas seria uma utopia ingênua acreditar que uma organização pode proclamar-se revolucionária e anti-oportunista e que isso basta para livrá-la, de uma vez por todas, de qualquer risco de degradação em direção ao oportunismo – ou pior, acreditar que essa degradação depende apenas da intenção carreirista maior ou menor dos membros dessa organização. Prova suficiente disso é o processo de social-democratização de inúmeros partidos autodeclarados comunistas e anti-social-democráticos, ao longo de todo o último século.

Por isso mesmo, o pior risco que o movimento revolucionário pode cometer é aferrar-se a uma compreensão unilateral e limitada do oportunismo, entendido como traço de personalidade, ou como carreirismo individual. A pior e mais perene forma do oportunismo é aquela inconsciente, que não se liga a qualquer vantagem pessoal, e que se comete com toda a honestidade e zelo do mundo: como dizia Marx, o caminho para o inferno é pavimentado por boas intenções. No mesmo sentido, o caminho mais rápido para o rebaixamento ideológico do movimento revolucionário é a restrição do conceito de “oportunismo” à sua forma intencional e pessoal. Isso porque a forma mais fácil de encubar o oportunismo em uma organização revolucionária consiste em declará-la “livre de qualquer risco de oportunismo”, baseando-se abstratamente na boa-fé entre camaradas e contribuindo, assim, para o rebaixamento da vigilância ideológica contra os desvios à direita que podem sempre surgir diante de novos dilemas históricos. É preciso lembrar disso em especial em épocas como as nossas, de refluxo do movimento operário e de ofensiva dos reacionários, épocas nas quais a maré empurra com tanta força à direita que arrasta inclusive muitos autoproclamados socialistas – que, em nome de suas frentes-amplas com as classes proprietárias, ou seja, em nome do defencismo democrático-formal imediato, abandonam a agitação e a propaganda pela revolução socialista do proletariado (não faltam exemplos disso na realidade atual, especialmente entre os Socialistas-e-Libertários).

Mas mesmo entre os reformistas declarados, aqueles que são plenos e perfeitos representantes do chamado oportunismo, ou “possibilismo”, de nada adianta a investigação das intenções: pouco importa se (para tomarmos mais um exemplo da realidade brasileira) Lula promove sua política conciliadora porque obtém vantagens pessoais com isso, ou se o faz porque considera de todo o coração que esse seja o curso de ação que trará mais benefícios ao povo pobre a curto prazo. Embora, em todo caso, Lula forneça farto material para a agitação revolucionária, o que importa não é demonstrar às massas que sua intenção é “indigna” – isso faria, no máximo, com que a massa depositasse suas confianças em um outro conciliador “mais honesto”. O que importa é demonstrar a falência incondicional de seus métodos; demonstrar que, independente das melhores intenções de qualquer reformista, sua política mina as condições ideológicas e organizativas de luta do proletariado pelo poder e fortalece as condições de domínio da burguesia, subordina politicamente a independência política do proletariado aos pequenos e grandes proprietários etc.

Essa tarefa não é simples, nem pode ser realizada do dia para a noite. Ora, também essa confusão da consciência política das massas encontra expressão em nossa linguagem cotidiana: quando ouvimos que “fulano é uma pessoa muito política”, podemos ter quase certeza de que o fulano em questão não é um revolucionário militante, mas um conciliador. O trabalho de reorganização e educação política das amplas massas do proletariado ainda tem pela frente um longo caminho – e só pode marchar até o fim sob a bandeira vermelha da Revolução Socialista. Justamente por isso, de nada adianta tomarmos atalhos em direção ao subjetivismo e ao moralismo, em nossa agitação e propaganda contra o possibilismo: é apenas pelo confronto aberto entre as perspectivas objetivas das forças políticas da classe trabalhadora, pela prova da prática e pela polêmica teórica em torno de suas estratégias e táticas, no combate cotidiano contra o reboquismo, pela independência revolucionária do proletariado, que será possível desenvolver e fundir, na luta, o Bloco Revolucionário do Proletariado.

PS: Recentemente, um camarada perguntou-me sobre a infeliz expressão “oportunismo ‘de esquerda’”. O camarada queria saber onde, nas obras de Lênin, o bolchevique dizia que o “esquerdismo” poderia era definido como uma variante “de esquerda” do oportunismo. Depois de alguma pesquisa, confirmei minha primeira impressão: o termo não é citado nenhuma vez nos textos mais conhecidos de Lênin sobre o “esquerdismo”, nem em nenhum outro que pude conferir. Nesses textos, Lênin refere-se ao esquerdismo como um “doutrinarismo”, e em momento algum equipara esse “desvio de esquerda” ao outro desvio, diametralmente oposto, de direita. Com efeito: a falta de firmeza nos princípios teóricos e o doutrinarismo não podem ser igualados. Em ambos os casos, rompe-se a conexão entre estratégia e tática – mas, em cada desvio, é um dos aspectos dessa conexão que é tomado unilateralmente. O oportunismo afoga a estratégia revolucionária no imediatismo das táticas. O doutrinarismo opera de modo inverso, sacrificando as mediações táticas de cada estágio que atravessa a luta da classe operária no altar da performance revolucionária, recusando qualquer luta por reformas e proclamando a atualidade imediata da insurreição e do programa máximo (e, assim, renunciando a participar das lutas cotidianas não-revolucionárias, da luta eleitoral, dos sindicatos etc., também deixa de contribuir de modo consistente para o desenvolvimento da consciência e organização revolucionária do proletariado, através de cada um dos estágios de defensiva e contraofensiva que a luta do proletariado contra a burguesia atravessa).

PS2: Rosa Luxemburgo escreveu, em setembro de 1898, um texto intitulado Possibilismus und opportunismus, onde comentou, a respeito da questão linguística e de mérito:

“Os termos são: possibilismo e oportunismo. Heine acredita que toda a aversão do partido a estas tendências baseia-se em um mal-entendido acerca do verdadeiro significado linguístico destas palavras estrangeiras. Ah! O camarada Heine, como Fausto, estudou jurisprudência com dedicado empenho, mas infelizmente, diferentemente de Fausto, não estudou, com o mesmo esforço ardente, muito mais que isso. E, no genuíno espírito de um pensamento jurídico, ele diz a si mesmo: no princípio era a Palavra. Se quiséssemos saber se o possibilismo e o oportunismo podem prejudicar ou beneficiar a social-democracia, basta consultar o dicionário de palavras estrangeiras e a questão estará respondida em cinco minutos. O dicionário estrangeiro nos informa que o possibilismo é ‘uma política que busca aquilo que é possível sob determinadas circunstâncias’, e Heine então exclama: ‘de fato, eu pergunto a todas as pessoas sensatas: uma política deveria tentar alcançar o que é impossível sob determinadas circunstâncias dadas?’ Como pessoas sensatas, respondemos que, claro, se a solução de questões de política e tática fosse tão simples, os lexicógrafos seriam os estadistas mais sábios, em vez de proferir discursos social-democratas, nós deveríamos começar a promover cursos populares sobre linguística.

Certamente, nossa política deve e pode apenas se esforçar por aquilo que seja possível sob determinadas circunstâncias. Mas isso não responde, de forma alguma, como e de que maneira devemos lutar pelo possível. Esse, contudo, é o ponto crucial.

A questão fundamental do movimento socialista sempre foi como reconciliar sua atividade prática imediata com seu objetivo final. As várias ‘escolas’ e tendências do socialismo diferem umas das outras de acordo com suas diversas soluções para este problema. E a social-democracia é precisamente o primeiro partido socialista que entendeu como harmonizar seu objetivo final revolucionário com sua atividade prática do dia a dia e, desta forma, tem sido capaz de atrair para a luta grandes massas. […]

É apenas porque nós não concedemos nem um centímetro de nossa posição que nós forçamos o governo e os partidos burgueses a nos conceder o pouco que pode ser alcançado em termos de sucesso imediato. Mas se nós começamos a perseguir o que é ‘possível’ de acordo com o oportunismo, sem nos preocupar com nossos próprios princípios e por meio das negociatas, como fazem os estadistas, então logo nos encontraremos na posição do caçador que não só falhou em matar a caça, mas também perdeu sua espingarda no processo.

Não são as palavras estrangeiras (oportunismo, possibilismo) que tememos, como pensa Heine: o que tememos é a germanização destes termos em nossa prática partidária. Que estas permaneçam, para nós, palavras estrangeiras. E que, havendo ocasião, que nossos camaradas evitem desempenhar o papel de intérpretes.” [Disponível em: A outra Rosa, LavraPalavra, 2021.]

Notas:

 

[1] Tradução livre. Disponível em inglês em: https://www.marxists.org/archive/marx/works/1882/letters/82_10_28.htm

[2] htps://www.marxists.org/portugues/lenin/1902/quefazer/anexo.htm

[3] Tradução livre. Disponível em inglês em: https://www.marxists.org/archive/lenin/works/1906/jun/24.htm

[4] Tradução livre. Disponível em inglês em: https://www.marxists.org/archive/lenin/works/1920/dec/06.htm

[5] Entre outros exemplos: “Quanto mais frequentemente temos ocasião de observar no nosso tempo como o movimento operário de diferentes países sofre com o oportunismo em consequência da estagnação e da putrefação da burguesia, em consequência da absorção da atenção dos dirigentes operários pelas ninharias do dia etc., mais precioso é o riquíssimo material da correspondência [entre Marx e Engels], que mostra a profundíssima compreensão dos objetivos transformadores radicais do proletariado e a definição invulgarmente flexível das tarefas táticas do momento do ponto de vista desses objetivos revolucionários e sem a mínima concessão ao oportunismo ou à fraseologia revolucionária.”

Em: https://www.marxists.org/portugues/lenin/1913/mes/correspondencia.htm

Fonte: https://lavrapalavra.com/2021/09/24/o-que-e-oportunismo-notas-linguisticas/

19.9.21

Declaração do Partido Comunista do México - PCM



Companheiro Miguel Díaz-Canel 

Presidente de Cuba,

Primeiro Secretário do Partido Comunista de Cuba:

 

O Partido Comunista do México dá as boas-vindas ao nosso país, saudando a sua presença como um reforço do vínculo dos trabalhadores de Cuba e do México, irmanados na luta contra o capitalismo, o imperialismo e a favor da revolução socialista.

Os laços de fraternidade de ambos os povos surgiram precisamente no combate, e ao longo do século XX e até agora no XXI, foram constantemente reforçados pela atividade dos comunistas, e um exemplo disso é Julio Antonio Mella, comunista cubano e Mexicano, líder do PCC e do PCM, combatente pelos interesses da classe trabalhadora cubana e mexicana.

Cuba, sua Revolução e seu Partido Comunista, têm sido um exemplo para os trabalhadores mexicanos; e por isso, frente a cada agressão ou provocação do imperialismo, sejam os EUA, a UE ou algum dos seus fantoches, emergirão profundas expressões de solidariedade, especialmente em defesa das conquistas socialistas. 

Saiba você, que este México com o qual a Revolução Cubana sempre contará, nada tem a ver com as incursões anti-imigrantes contra nossos irmãos haitianos ou centro-americanos; que também nada tem a ver com perigosas políticas para militarizar este país, nem despojar de suas terras e territórios os povos originários, a fim de beneficiar a expansão capitalista dos monopólios; tampouco tem a ver com a assinatura de acordos interimperialistas, como o NAFTA antes e hoje o T-MEC, firmados por maus governos que são subalternos ao poder dos monopólios. O México solidário com a Revolução Cubana é o dos explorados, dos humildes, dos oprimidos, é aí onde se coloca o Partido Comunista do México.

Conscientes de que a experiência de Cuba é um degrau para a ação geral do proletariado de assaltar o céu, os comunistas mexicanos dão as boas-vindas à sua visita ao nosso território, onde mais cedo ou mais tarde avançaremos para o futuro.

Viva a amizade do proletariado cubano e mexicano!

Viva a Revolução Cubana!

Proletários de todos os países, uni-vos!

O Comitê Central do Partido Comunista do México - 16/09/2021

Fonte: http://www.comunistas-mexicanos.org/partido-comunista-de-mexico/2278-bienvenido-companero-diaz-canel

Edição: Que Fazer

 

 

12.9.21

Comunicado do CC do PC do México

Passeata do PCM


A VIII Sessão Plenária do Comitê Central do Partido Comunista do México se reuniu na Cidade do México nos dias 4 e 5 de setembro, para a qual foram convidados um conjunto de quadros, secretários políticos de organizações regionais do PCM, bem como uma delegação do Conselho Central da Federação de Jovens Comunistas.

A VIII Sessão Plenária começou homenageando a camarada Tamila Yabrova, dirigente da União dos Comunistas da Ucrânia, diretora da revista Marxismo e Época Contemporânea, ao grande artista popular da Grécia e do mundo Mikis Theodorakis e ao camarada da Federação dos Jovens Comunistas Alejandro Pech Quijano, recentemente falecidos.

O primeiro ponto da agenda foi a discussão em torno do Relatório Político apresentado pelo Birô Político. As seguintes questões foram abordadas nele:

A lamentável situação sanitária, que atualmente ultrapassa 260.000 mortes, atingindo principalmente a classe trabalhadora e os setores populares do México. A esse respeito, se enfatizou que a realização de eleições federais para a renovação das duas Casas do Parlamento foi o sinal de partida para o restabelecimento da normalidade do processo produtivo e da exploração, portanto, medidas de prevenção e distância sanitária foram deixadas para trás, o que acentuou a terceira onda de infecções e que atinge especialmente os jovens trabalhadores. Nisso há uma grande responsabilidade do governo López Obrador, que atuou a todo o momento para proteger os lucros do capital, o poder dos monopólios e deixou à própria sorte os trabalhadores e suas famílias.

Foi avaliada também a crise econômica capitalista em curso, o acirramento dos antagonismos interimperialistas, a acirrada competição entre EUA e China em todas as áreas. Como todo Partido Comunista, o PCM considera continuar a sua preparação para um cenário em que tais antagonismos se agravem para além dos aspectos diplomáticos, econômicos e comerciais.

Foi feita uma avaliação acerca dos acontecimentos contrarrevolucionários de 11 de julho em Cuba. Claro que o PCM tem estado na primeira linha na defesa das conquistas socialistas da Revolução Cubana e da sua soberania, condenando as provocações do imperialismo. Não deixa de perceber, porém, que, embora minoritários, os grupos contrarrevolucionários do interior têm aumentado em número, como resultado das reformas prometedoras da chamada “atualização do modelo econômico socialista cubano”. A experiência histórica nos mostra que o socialismo de mercado é a erosão da construção socialista, e que esse curso 30 anos atrás resultou na derrubada temporária da construção socialista na URSS. Transferimos fraternalmente essas preocupações em vários intercâmbios bilaterais aos camaradas do Partido Comunista de Cuba. Portanto, à luz dessas teses, o PCM estudará com maior profundidade o desenrolar dos acontecimentos em Cuba, expressando ao mesmo tempo sua solidariedade para com os comunistas cubanos.

Ao atingir a metade do governo de López Obrador, confirmam-se as apreciações do Partido Comunista do México de que se trata de um governo antitrabalhador e antipopular. A militarização está se aprofundando, todos os compromissos com organizações financeiras internacionais foram ratificados, o tratado interimperialista Canadá-EUA-México, agora rebatizado de T-MEC, foi levado a um passo mais alto.

Obrador, em conluio com Biden-Harris, agora lança uma nova onda de ataques contra a classe trabalhadora, promovendo o modelo da chamada “liberdade sindical”, com um primeiro investimento de 130 milhões de dólares para a compra do sindicalismo mexicano, buscando promover assim o “pacto operário-patronal”.

Obrador, com base em seus compromissos com Trump-Biden-Harris, continua uma feroz caça aos migrantes da América Central e do Caribe, que se intensificou nos últimos dias contra crianças, mulheres e homens haitianos. Além do fato de que, no interesse dos monopólios, a expansão capitalista continua na base da desapropriação de terras e territórios de povos indígenas com megaprojetos no Sudeste do país.

Havia uma expectativa do espectro político que, até julho de 2018, conhecíamos como “esquerda socialista”, de várias organizações, movimentos e franjas da intelectualidade que justificavam seu apoio a Obrador, na esperança de reverter o neoliberalismo. Mas todas as privatizações permaneceram intactas e os beneficiários delas são figuras proeminentes do atual governo. Esse espectro extinto da esquerda socialista ficou vergonhosamente em silêncio e completamente desarmado ideológica e politicamente.

A questão de fundo é que o neoliberalismo, o keynesianismo ou outras variantes são, afinal, estritamente gestões do capitalismo. Colocar-se contra o neoliberalismo não é se opor ao capitalismo, mas pretender o impossível, que é “humanizá-lo”. A estratégia do “mal menor”, do “realismo político”, do possibilismo esqueceu a importante lição de que as reformas são um resultado secundário da luta revolucionária, da intensificação da luta de classes. Por isso estão acorrentados a esta gestão capitalista e fazem parte da base de apoio à atual dominação capitalista, que promove a desmobilização, a submissão e a ideia de que os explorados são “escravos satisfeitos”.

A disputa interburguesa que nos últimos dias teve mais um episódio na peça de apresentação da Carta de Madrid, promovido pelo partido reacionário espanhol VOX, e que foi escrito pelo Grupo Parlamentar do Partido da Ação Nacional no Senado da República. É um documento anticomunista, anunciado com o objetivo de frear o comunismo no México e em outros países. Ao contrário do que dizem esses partidos anticomunistas, nem Obrador, nem o Grupo Puebla, nem o Fórum de São Paulo expressam de forma alguma a opção pela Revolução Socialista, mas sim a defesa da gestão socialdemocrata do capitalismo. Imediatamente, a partir de Obrador, sua intelectualidade orgânica e ativistas se lançaram a agitar o monstro do fascismo e convocando a unidade de todos para enfrentá-lo. O PCM considera que o fascismo é um produto do capitalismo e que, no balanço histórico, a aliança com as forças burguesas para combatê-lo é errada. Para nós, a luta contra a gestão governamental socialdemocrata de Obrador faz parte da luta contra a possibilidade da opção reacionária do fascismo. Nos últimos anos, os esforços da socialdemocracia abriram as portas para opções mais reacionárias, como Lula-Dilma, que pavimentou a chegada de Bolsonaro e outros exemplos. O PCM sustenta que o caminho para a unidade da classe trabalhadora, da mulher trabalhadora, da juventude e dos povos indígenas é um movimento antitruste e anticapitalista para derrubar a burguesia e para que o poder seja exercido pela classe trabalhadora. Nos últimos anos, as gestões socialdemocratas acabaram por abrir as portas para opções mais reacionárias, como foi o caso do governo Lula-Dilma, que pavimentou a chegada de Bolsonaro e outros exemplos. O PCM sustenta que o caminho para a unidade da classe trabalhadora, da mulher trabalhadora, da juventude e dos povos indígenas é um movimento antimonopolista e anticapitalista para derrubar a burguesia e para que o poder seja exercido pela classe trabalhadora.

O segundo item da agenda da VIII Sessão Plenária foi o início dos preparativos para o VII Congresso do Partido Comunista do México. Apesar do abrandamento que a pandemia impôs a muitas das atividades, a vida orgânica do PCM e a sua intervenção política conseguiram ultrapassar as dificuldades, de forma a que existam todas as condições para a realização oportuna do seu Congresso nos termos do Estatuto. Um primeiro passo para isso é a Conferência Nacional de Organização, que será realizada em outubro na Cidade do México, e o III Congresso da Federação de Jovens Comunistas, em dezembro. Entre as questões iniciais levantadas, além do Relatório Político, as Teses Políticas sobre o desenvolvimento da luta de classes internacional e nacional e as tarefas do PCM até o VIII Congresso, o CC colocou a necessidade de apresentar conclusões sobre os seguintes temas: Sobre as relações de produção prevalecentes na China, b) Conclusão sobre a natureza de classe do progressismo, bem como o início do estudo e as primeiros apreciações em torno da Quarta Revolução Industrial.

Assim o Partido Comunista se prepara para realizar seu VII Congresso no segundo semestre de 2022, colocando sua perspectiva de avançar na tarefa da Revolução Socialista e estabelecer as tarefas correspondentes.

Proletários de todos os países, uni-vos! 

Cidade do México, 5 de setembro de 2021.


Fonte: http://www.comunistas-mexicanos.org/partido-comunista-de-mexico/2277-se-realizo-el-viii-pleno-del-cc-del-pcm

Edição: Que Fazer

 

 

 

 

6.9.21

"Aprender com os Erros do Passado para Construir um Partido Novo, Efetivamente Revolucionário"

Luiz Carlos Prestes

25 de Março - 1981: O PCB Completa 59 Anos de Lutas Pelos Interesses dos Trabalhadores, Pelas Liberdades e Por Todas a Causas Justas de Nosso Povo.


     A criação do PC no Brasil — fundado à luz e sob a influência do grande acontecimento histórico que foi a realização da revolução pelo proletariado da Rússia, dirigido pelo Partido Bolchevique, que tinha à sua frente o gênio de Lênin — foi, no fundamental, a consequência necessária do amadurecimento da classe operária que já sentia a necessidade de uma organização política própria, capaz de dirigir as lutas por suas reivindicações de classe e de lutar consequentemente por um novo regime político, de realizar transformações sociais profundas que libertem os trabalhadores da exploração de que são vítimas.


Luiz Carlos Prestes (1898-1990)

 

     Recordamos nesta data o pequeno grupo, constituído, na sua quase totalidade, por operários e dirigentes sindicais (de origem anarco-sindicalista), tendo à frente o intelectual de destaque que foi Astrogildo Pereira, grupo que soube vencer todas as dificuldades e enfrentar mil incompreensões para, voltado para o futuro, fundar em nosso País o primeiro partido político dos oprimidos. Apesar de todas as perseguições, das repetidas vezes que foi considerado totalmente aniquilado pelas forças reacionárias, este partido manteve-se vivo e atuante, sempre ressurgindo com novo e maior vigor, de forma a ser hoje a expressão inédita em nosso País do único partido político que já entra no sexagésimo ano de vida. E isto num país como o nosso, cujo atraso cultural e político está concretamente expresso na falta de organizações políticas estáveis, já que as classes dominantes, para enganar a população, diante de cada crise e da consequente desmoralização de seus partidos políticos, tratam de modificar, na defesa de seus interesses, o nome dos partidos políticos, de reduzi-los, por exemplo, a simples ajuntamentos políticos, como a ARENA e o MDB, para, em seguida, como aconteceu recentemente, em nome de uma chamada reestruturação partidária, dividir a "oposição" de maneira a poder manter, através do voto, o sistema de dominação dos monopólios nacionais e estrangeiros.

     Nosso Partido não pode, na verdade, ser eliminado, nem desaparecer, porque é a expressão política da classe mais avançada da sociedade capitalista, aquela que, inexoravelmente, cresce com o próprio desenvolvimento do capitalismo.

     Desde sua fundação, nas dezenas de anos decorridos, teve sempre o mérito de levantar e lutar com abnegação pelas principais causas justas dos trabalhadores e das demais camadas sociais oprimidas ou exploradas da população brasileira. Lutou sempre pela melhoria das condições de vida dos trabalhadores, pela limitação da jornada de trabalho, por uma legislação trabalhista mais justa, pela fixação pelo Estado de um salário mínimo, bem como pelo 13º salário e demais reivindicações dos trabalhadores. Foram os comunistas os primeiros a levantar o problema da reforma agrária, lutar pela eliminação do latifúndio, contra as formas pré-capitalistas de exploração dos trabalhadores do campo e pela entrega da terra aos que nela efetivamente trabalham. Coube, também, aos comunistas a iniciativa, em nossa terra, de desmascarar a opressão imperialista e dar passos importantes no caminho da luta contra a exploração do nosso povo pelo capital estrangeiro. Mesmo nas condições da mais brutal repressão policial, exerceram os comunistas papel de destaque na luta em defesa das riquezas naturais da Nação, na luta contra a entrega dos minérios e, em particular, do petróleo aos trustes imperialistas, participando ativamente da histórica campanha pelo monopólio estatal da exploração do petróleo. Nosso Partido, que mobilizou massas em defesa da União Soviética, traiçoeiramente atacada pelo banditismo hitleriano, sendo numerosos os seus membros que participaram do contingente militar que lutou na Itália, após o fim da Segunda Guerra Mundial exigiu que os soldados norte-americanos abandonassem o solo de nossa Pátria e fossem eliminadas as bases militares íanques que durante a guerra foram instaladas em nosso País. Participando sempre de todas as lutas pela redemocratização do País, além de utilizar o voto, tanto na legalidade como nos períodos de maior repressão, os comunistas se fizeram representar na Constituinte de 1946, na qual, apesar do número reduzido de representantes que constituíam a bancada comunista, tiveram papel destacado no esforço para que fossem registrados na Constituição de 1946 os principais direitos democráticos, inclusive o direito de greve para os operários, de tal forma que, apesar das características fundamentais reacionárias da referida Constituição, é ela, no terreno dos direitos civis, a mais democrática que já teve nosso povo. Quando pesou sobre nosso povo a terrível ameaça de fascistização do País, foram os comunistas que tiveram a iniciativa de formar a ampla Aliança Nacional Libertadora e de empunhar armas em defesa da democracia. Apesar dos erros que foram cometidos e que ainda não foram de maneira suficiente analisados, o movimento armado de 1935 representa na vida de nosso Partido o ponto mais elevado de sua atividade política — movimento "Por Pão, Terra e Liberdade" — movimento que por ser patriótico e honesto, não podia, como ensina Lênin, deixar de produzir frutos e de, apesar de derrotado, não ter permitido a implantação de um regime fascista em nosso País.


Prestes discursa na volta do exílio, 20/10/1979.


     Com o golpe militar reacionário de 1964, mais uma vez, os comunistas, apesar dos erros cometidos e que contribuíram para a vitória fácil da contra-revolução, continuaram resistindo e lutando pelas liberdades democráticas e souberam travar uma justa luta contra as tendências equivocadas daqueles que se lançaram, inoportunamente, à luta armada. Tanto no período anterior ao golpe, como depois dele, foram numerosos os comunistas que sacrificaram suas vidas na luta pelos interesses da classe operária e do povo. Somente no governo do sr. Dutra, 55 companheiros tombaram sob as balas assassinas da reação e, após 1964, durante o governo do sr, Geisel, morre na tortura o heroico dirigente da Juventude Comunista — José Montenegro de Lima — e são sequestrados e continuam até hoje desaparecidos os membros do CC:

David Capistrano da Costa, Elson Costa, João Massena, Luís Maranhão Filho, Valter Ribeiro, Hiran Pereira, Itair Veloso, Jaime Miranda, Orlando Bonfim e Nestor Veras.

O processo de construção socialista e nacional no Cazaquistão e na Ásia Central

  Conclusões atuais Ainur Kurmanov , co-presidente do Movimento Socialista do Cazaquistão Bandeira do Cazaquistão na era soviética. ...