Vol. II – Cap. III de A luta de classes na URSS
Charles Bettelheim* (1977)
O papel dominante desempenhado na
resolução das lutas de classes pelas intervenções do partido bolchevique na
vida política, econômica e social da formação soviética se deve à inserção do
partido nestas lutas e ao lugar que ele ocupa no sistema dos aparelhos do
poder, ao papel dirigente que é o seu. Este papel significa que as intervenções
do partido contribuem para impor um curso determinado à maior parte das lutas,
não implica que este curso seja necessariamente o visado por ele. A
correspondência do curso e da resolução das lutas, com os objetivos visados
pelo partido, depende da adequação à situação real das análises ou da
representação desta situação, a partir das quais o partido age e, antes de
tudo, das forças sociais que o partido é capaz de ligar à sua política e de
mobilizar.
Manifestação bolchevique, julho de 1917. |
Fundamentalmente, a natureza e as formas
das intervenções do partido são dominadas pelo sistema de conceitos, de noções,
de princípios, de representações etc., que constituem a cada momento — na articulação
que é então a sua — a formação ideológica bolchevique. Esta não cai do céu. Ela
é o produto histórico das lutas de classes e das lições (justas ou falsas)
tiradas destas, assim como das relações políticas existentes no seio do partido
e entre o partido e as diferentes classes sociais.
A formação ideológica bolchevique não é
«dada uma vez por todas». É uma realidade social complexa, objetiva, e que se
transforma. Realiza-se em práticas e formas de organização, assim como em
formulações inscritas em um conjunto de textos. Esta realidade exerce efeitos
determinados sobre aqueles a quem ela serve de instrumento de análise ou de
interpretação do mundo, e de instrumento de análise ou de interpretação do
mundo, e de instrumento destinado a transformá-lo. Estes efeitos têm um caráter
diferencial em razão das contradições internas da formação ideológica, da
diversidade dos lugares ocupados na formação social por aqueles a quem o
bolchevismo serve de guia, e das práticas sociais diferentes nas quais estão inseridas.
O marxismo-leninismo constitui o
fundamento teórico do bolchevismo, mas não se identifica com a formação
ideológica bolchevique. Esta, com efeito, é uma realidade contraditória no seio
da qual se desenvolve uma luta constante entre o pensamento revolucionário
marxista, o marxismo historicamente constituído e diversas correntes
ideológicas estranhas ao marxismo, do qual representam uma paródia, pois
emprestam dele frequentemente a sua «terminologia».
As distinções que acabam de ser feitas
pedem alguns esclarecimentos: implicam notadamente que não se pode identificar
a integralidade da formação ideológica bolchevique ao marxismo-leninismo.
Implicam também que não se pode identificar a todo momento o pensamento
revolucionário marxista ao marxismo tal como historicamente se constituiu em
cada época, na base de uma fusão entre o pensamento revolucionário marxista e o
movimento organizado da vanguarda do proletariado. O marxismo assim constituído
representa um conjunto sistematizado de conceitos, de representações e de
práticas, permitindo ao movimento revolucionário da classe operária, que se
identifica com o pensamento de Marx, enfrentar — nas condições concretas nas
quais se acha colocado — os seus problemas. Estas sistematizações sucessivas,
necessárias à ação, mas comportando elementos mais ou menos improvisados — e
correspondendo às exigências reais ou aparentes de uma conjuntura dada da luta
de classes — constituem o marxismo de cada época: o da social-democracia alemã,
da II Internacional no fim do século XIX e, no início do XX o da III
Internacional etc.
No coração do marxismo, tal como está
historicamente constituído, um lugar variável cabe aos princípios e às
concepções revolucionárias, frutos de análises científicas desenvolvidas a
partir das posições de classe do proletariado e fundadas sobre um amplo balanço
das lutas deste último. O balanço é o núcleo científico do marxismo. O
conhecimento científico marxista não é, portanto, «trazido de fora» da classe
operária. É produto de uma sistematização científica de suas lutas e de suas
iniciativas. Resulta de um processo de elaboração que parte das massas para
retornar às massas e que comporta uma sistematização conceitual.
O pensamento científico marxista não é
«dado» de maneira definitiva: é destinado a se desenvolver, a se enriquecer e a
se retificar na base de novas lutas e de novas iniciativas. Retificações
importantes são inevitáveis, pois o pensamento científico marxista — que se
pode chamar o marxismo revolucionário — deve tirar as lições de lutas travadas
pelas massas laboriosas que avançam por uma via nunca antes explorada.
O marxismo revolucionário não é um
sistema, mas comporta elementos de sistematicidade graças aos quais, na
realidade contraditória que constitui, os conhecimentos científicos que são o
seu núcleo desempenham o papel dominante, permitindo compreender a realidade
objetiva e agir sobre ela com conhecimento de causa.
O desenvolvimento mesmo do marxismo
revolucionário implica a existência de contradições em seu próprio seio(1) e a
sua transformação através de um processo que permite ao conhecimento científico
se retificar e se completar no elemento de objetividade sobre o qual se baseou.
Daí a fórmula de Lenin: «Não vemos
absolutamente a teoria de Marx como qualquer coisa de acabado e intangível;
estamos convencidos, ao contrário, de que ela simplesmente colocou a pedra
angular da ciência que os socialistas devem levar mais adiante em todas as
direções, se não quiserem se deixar distanciar pela vida.»(2)
Assim,
como toda ciência, o marxismo revolucionário conhece um processo de
desenvolvimento. A cada etapa deste processo, algumas das formulações teóricas
ou das representações ideológicas(3) que faziam parte do marxismo
revolucionário da época anterior são eliminadas; doravante lhe são estranhas, o
que não significa que sejam necessariamente eliminadas de maneira imediata e
«definitiva», nem do marxismo tal como está historicamente constituído no seio
do movimento revolucionário da classe operária, nem, ainda menos, de diferentes
correntes ideológicas estranhas ao marxismo mas que desempenham um papel no
movimento revolucionário.
O processo de transformação do marxismo
revolucionário e o do marxismo historicamente constituído a cada época não são
absolutamente «paralelos». O primeiro é o do desenvolvimento de uma ciência, o
segundo é o da transformação de uma ideologia de base científica. Sob o efeito
das dificuldades das lutas de classe operária, o marxismo historicamente
constituído a cada época conhece não somente enriquecimentos teóricos (ligados
ao desenvolvimento dos conhecimentos científicos dependentes eles também da
prática social), mas também empobrecimentos, por retraimento, ocultação,
recobrimento mais ou menos completo de alguns dos princípios ou das idéias do marxismo
revolucionário(4).
O que precede corresponde a distinções
necessárias e esclarece uma frase de Marx, que não é absolutamente uma boutade:
«Tudo que sei, é que não sou marxista»(5).
Tal frase significa a recusa de Marx de
ver sua obra assimilada ao marxismo da social-democracia alemã (mas também a
outros «marxismos», como mostra em particular a maneira pela qual reage às
interpretações de suas concepções por diversos autores russos). Esta recusa é a
rejeição da redução de suas descobertas científicas a um sistema ideológico tal
como o que elabora a social-democracia alemã em sua luta necessária contra o
lassallismo e, também, em seus compromissos com este. Este sistema correspondia
sem dúvida a algumas das exigências das lutas do movimento operário alemão da
época e foi o ponto de partida de transformações sucessivas (das quais nasceu
notadamente o marxismo da III Internacional), mas exclui uma parte das
aquisições do marxismo revolucionário(6) (e «utiliza» às vezes textos de Marx
que não correspondem às formas mais desenvolvidas de sua obra). Assim, o
marxismo da social-democracia alemã tende a «ignorar»(7) uma parte das análises
desenvolvidas por Marx após a Comuna de Paris, e que concernem às formas do
poder político, ao Estado, às organizações da classe operária, às formas de
propriedade e de apropriação etc.(8)
Vimos que luta Lenin travou para
transformar o marxismo de sua época, para desenvolvê-lo e para reintroduzir
nele uma série de teses fundamentais do marxismo revolucionário (sobretudo
sobre o problema do Estado), para combater o «economismo». Vimos também os
obstáculos com os quais esta luta se chocou e as resistências que ela encontrou
no próprio seio do bolchevismo.
A presença no seio da formação ideológica
bolchevique de correntes estranhas ao marxismo(9), é um efeito necessário das
lutas de classes. Segundo os momentos, estas correntes exercem uma influência
mais ou menos considerável sobre o bolchevismo. Uma das características da ação
de Lenin é seu esforço para revelar as raízes teóricas das concepções que ele
combate. Este esforço, Lenin o emprega também em relação aos erros que ele
mesmo cometeu e reconheceu: não se limita nem a uma retificação nem a uma
autocrítica, efetua uma análise. Eis aí um aspecto essencial da prática
leninista, aspecto que tende a desaparecer da prática bolchevista ulterior.
Esta privilegia na maioria das vezes «retificações silenciosas», o que não
contribui para um verdadeiro desenvolvimento do marxismo, e mantém intacta a
possibilidade de «recair no mesmo erro»(10).
Entretanto, as correntes estranhas ao
marxismo presentes no seio do bolchevismo não desaparecem necessariamente
porque foram criticadas. Na medida em que as bases sociais sobre as quais
repousam subsistem, continuam elas mesmas a subsistir, mas geralmente sob
formas modificadas.
E também, a história da formação
ideológica bolchevique se apresenta como a das transformações de diversas
correntes que constituem a unidade contraditória do bolchevismo, assim como de
suas relações de dominação/subordinação. Esta história não é uma “história das ideias”.
Ela é a dos efeitos sobre a formação ideológica bolchevique da transformação
das relações e das lutas de classes, e das formas de inserção do partido nestas
lutas. É marcada por períodos de extensão da influência do marxismo
revolucionário e por períodos de recuo desta influência. Não se trata aqui de
traçá-la. Isto exigiria uma série de análises que precisam ser feitas.
Entretanto, é necessário pôr em evidência algumas das características do
processo de transformação da formação ideológica bolchevique e sublinhar que, quando
se reforça em seu seio a influência das correntes estranhas ao marxismo, a
capacidade mesma do desenvolvimento deste último se acha reduzida: tende então
a se “congelar”, e fórmulas feitas substituem as análises concretas que são “a
alma do marxismo” (segundo a fórmula de Lenin).
As transformações da formação ideológica
bolchevique correspondem quer ao desenvolvimento de conhecimentos novos, quer
ao recobrimento (recalque) de conhecimentos antigos. Estas transformações têm
por causa interna as contradições mesmas da formação bolchevique, mas seu
movimento real é comandado pelas lutas de classes que se desenrolam na formação
social soviética, e pelo impacto que estas lutas exercem sobre as práticas e as
relações sociais, notadamente sobre as condições da experimentação científica
de massa. As transformações que sofre a formação ideológica bolchevique
produzem — em razão do lugar ocupado pelo partido bolchevique no sistema dos
aparelhos ideológicos — efeitos sobre a formação soviética, isto através das intervenções
do partido.
Observemos aqui que, na história concreta
da formação ideológica bolchevique, assiste-se ao recalque progressivo de um
certo número de conceitos que permitem analisar o movimento de reprodução das
relações mercantis e capitalistas, cuja existência se manifesta através das
formas valor, preço, salário e lucro. Progressivamente, estas formas se acham
cada vez mais colocadas como “formas vazias”, como «invólucros», utilizados
para «fins práticos» ou «técnicos» (contabilidade monetária, «eficiência» da
gestão etc.), ao passo que o conhecimento das relações sociais que manifestam
(e dissimulam) se acha recalcado pela formação ideológica bolchevique. Este
recalque corresponde ao posicionamento, pouco a pouco dominante, das
representações ideológicas da economia política burguesa: permite, ainda,
colocar o problema da grandeza do valor, mas elimina a questão do ‘porquê’ da
existência destas formas. Lembremos aqui esta observação de Marx: «A economia
política (…) jamais se colocou a questão: por que tal conteúdo se reveste de
tal forma?…»(11).
Ora, somente a formulação de uma tal
questão permite passar de conhecimentos empíricos, baseados no encadeamento
aparente das formas (na realidade tal como ela se representa [sich darstell]),
a conhecimentos científicos verdadeiros, baseados no movimento real. Os
conhecimentos empíricos podem orientar a ação, mas apenas os conhecimentos
científicos podem guiá-la e lhe permitir atingir efetivamente seu objetivo,
isto porque eles permitem analisar, prever e agir com conhecimento de causa.
O recalque, durante esse ou aquele período
de alguns dos conhecimentos científicos que pertencem ao marxismo
revolucionário, é um efeito da luta de classe que dá origem a diversas
correntes ideológicas. O que se produz no final da NEP tem um alcance político
decisivo: reduz a capacidade de análise do partido bolchevique, sua capacidade
de prever e de agir com conhecimento de causa.
Uma outra observação deve ser apresentada:
as contradições internas do bolchevismo, as lutas que se dão em seu seio entre
o marxismo-leninismo e as diversas correntes ideológicas, não remetem
diretamente às diferentes “tendências” cujo confronto marca a história do
partido bolchevique. Estas «tendências» são elas mesmas combinações contraditórias
de correntes ideológicas presentes no seio da formação ideológica bolchevique.
As contradições internas do bolchevismo
são ativas tanto na ideologia da maioria do partido, como na dos diversos
movimentos oposicionistas. Estes se diferenciam por modos de combinação
particulares das ideias do marxismo revolucionário e de ideias que lhe são
estranhas. No decorrer do tempo, estes modos de combinação sofrem variações que
afetam também a ideologia da maioria do partido: esta não é absolutamente
sempre idêntica a ela mesma. Ademais, as mudanças que ela conhece não
correspondem simplesmente a um aprofundamento do marxismo revolucionário ou a
uma extensão de sua influência no seio da formação ideológica bolchevique (como
o sugere a representação de um «desenvolvimento linear» ignorando a luta de
classes e seus efeitos ideológicos). Correspondem também a recuos que dão
novamente vida e autoridade (sob formas ligeiramente transformadas) a
configurações ideológicas que tinham sido anteriormente reconhecidas como fortemente
marcadas por ideias estranhas ao marxismo revolucionário. Tal é o caso no final
da NEP, no qual a maioria do partido adere à idéia do «desenvolvimento máximo
da produção dos meios de produção»(12) a realizar ao preço de uma acumulação
máxima obtida essencialmente graças a um «tributo» cobrado ao campesinato(13).
Ora, fundamentalmente, estas mesmas ideias tinham sido anteriormente
sustentadas por Preobrajensky e pela oposição trotskysta, e tinham sido
justamente condenadas em nome da manutenção da aliança operário-camponesa(14).
Um exame, um pouco atento, dos principais
textos ratificados em diversos momentos pelos órgãos diretores do partido
bolchevique, assim como dos discursos, livros e artigos da maioria de seus
dirigentes, basta para mostrar que a formação ideológica bolchevique é
efetivamente um campo de lutas constantes entre o marxismo revolucionário e as
idéias e representações estranhas a ele.
No decorrer da primeira metade dos anos de
1920, as principais formulações, enunciadas pelos dirigentes do partido e que
figuram nas resoluções então adotadas, reafirmam teses essenciais do marxismo
revolucionário ou correspondem a um certo aprofundamento de posições marxistas
fundamentais. É assim no que concerne às exigências da aliança operário-camponesa,
ao papel que deve caber à organização multiforme das massas, à necessidade de
abordar os problemas da construção do socialismo, ao desenvolvimento
indispensável da democracia soviética. Durante estes anos, a dominação das ideias
do marxismo revolucionário tende globalmente a se consolidar. Entretanto, como
se sabe, inúmeras posições de princípio ou decisões tomadas não chegam a
exercer uma influência larga e durável sobre as práticas dos aparelhos do
Estado e do partido. É em geral o caso quando se trata do centralismo
democrático, da democracia soviética, das relações econômicas e políticas com
as massas camponesas, assim como das relações entre a República russa e as
outras Repúblicas soviéticas(15).
A partir de 1925-1926, diversas
modificações afetam a formação ideológica bolchevique e contribuem para o
reforço de elementos ideológicos estranhos ao marxismo revolucionário. O
partido se empenha então em uma política industrial que agrava as contradições
no seio do setor industrial do Estado, e em práticas que prejudicam a solidez
da aliança operário-camponesa. Ao mesmo tempo, torna-se mais cego aos efeitos
negativos destas práticas, que lhe aparecem dever se impor como «necessidades»
inerentes à construção do socialismo.
A fim de explicitar o que precede, é
necessário se referir a alguns dos elementos estranhos ao marxismo
revolucionário presentes no seio das formações ideológicas bolchevique e das
indicações sobre o lugar que estes elementos ocupam em diferentes momentos, bem
como sobre alguns de seus efeitos políticos.
* Economista e historiador francês. Fundador do CEMI ("Centre pour l'Étude des Modes d'Industrialisation" - Centro para o Estudo de Modos de Industrialização) na Sorbonne, foi também consultor económico em governos de vários países em desenvolvimento durante a descolonização. Foi muito influente na Nova Esquerda Francesa.
Notas:
(1) O problema destas
contradições foi evocado no tomo 1 desta obra.
(2) Cf. Notre
programme, Lenin, OC, tomo 4, p. 217-218.
(3) A presença no seio
de toda ciência de representações ideológicas explica a necessidade de
retificações. Ela significa que o p a r ciência/ideologia não remete a dois
pólos antagônicos que se excluem necessariamente, mas a dois contrários que se
confundem: um sistema de conhecimentos científicos é tornado tal pela dominação
dos elementos de cientificidade sobre os elementos de representações
ideológicas. O caráter não exclusivo da ciência e da ideologia explica que
Lenin possa dizer do marxismo que ele é “a ideologia do proletariado
revolucionário” (OC, tomo 31, p. 328), e que Marx possa observar que a
ideologia proletária é a que o proletariado é chamado a reconhecer como
verdadeira porque corresponde ao lugar da classe operária nas relações de
produção.
(4) Um problema surge
aqui: o processo de empobrecimento e de ocultação dos princípios e das ideias
do marxismo revolucionário, que pode afetar o marxismo historicamente
constituído em sua fusão com o movimento operário não poderá atingir, por uma
corrente ideológica e política determinada, um grau tal que o resultado não
tenha mais senão uma relação ilusória com o marxismo revolucionário? É inegável
que possa ocorrer isso: este processo dá então nascimento a um «revisionismo»
que não é mais senão uma paródia de marxismo. O aparecimento de um
«revisionismo» tem por corolário o nascimento de um marxismo da nova época que
entra em luta com ele. A este respeito, G. Madjarian formula uma importante
observação:
“A luta contra o ‘revisionismo’ não pode se realizar pela conservação ou
antes pela simples reapropriação do marxismo tal como existia historicamente
antes. Longe de ser o sinal de um retorno à ortodoxia presumida da época
precedente, o aparecimento do ‘revisionismo’ é o sinal de uma crítica
necessária do marxismo por ele mesmo” (cf. “Marxisme, conception stalinienne,
révisionnisme”, in Communisme, maio-agosto, 1976, p. 44).
(5) Citado por Engels,
em À la rédaction du «Sozial-Demokrat», 7 de setembro de 1890.
(6) Daí, por exemplo, a
crítica por Marx e Engels aos programas de Gotha e de Erfurt elaborados pelo
movimento operário alemão.
(7) Esta “ignorância”
corresponde, às vezes, a uma falsificação consciente. Assim, na introdução à
edição alemã de 1891 de A Guerra Civil na França redigida por Engels, este
último fala sem hesitação dos «filisteus social-democratas». Ora, nos textos
impressos na época, o termo “socialdemocratas” foi substituído por “alemães”, a
fim de dissimular aos leitores as divergências entre Engels e a
social-democracia. O manuscrito de Engels se encontra no Instituto
Marx-Engels-Lenin de Moscou, a «correção» em questão não é de sua mão (cf.
sobre este ponto, a edição francesa de 1968 da obra citada, nota 1, p. 301).
(8) As divergências
entre a teoria revolucionária de Marx e o marxismo da social-democracia alemã
não são geralmente «expostas em praça pública» por Marx e Engels, mas eles
tampouco as dissimulam. Falam delas não somente na Crítica dos Programas de
Gotha e de Erfurt, mas em inúmeras outras ocasiões. Para fazer o balanço destas
divergências (na maioria das vezes explicitadas), é preciso se reportar a
numerosos textos: mencionamos, entre outros: a entrevista dada por Marx ao Chicago
Tribüne, 5 de janeiro de 1879 (cf. Marx-Engels, La Social-Démocratie allemande,
Paris, coll. “ 10/18”. 1975, p. 97); as notas de Marx ao livro de Bakunin,
Êtatisme et ‘Anarchie (in Marx-Bdkounine, Paris, coll. “ 10/18”, 1976, tomo 2,
p. 379 s); diversas anotações de Engels em seu texto de 1885 sobre a história
da Liga dos comunistas (cf. MEW, tomo 21, p. 206 s).
(9) Uma destas
correntes é constituída — como o veremos — pelo bogdanovismo, sistema
ideológico elaborado por Bogdanov (Cf. infra, nota 5, p. 464). Sob formas
transformadas, esta corrente está constantemente presente no seio da formação
ideológica bolchevique.
(10) No prefácio que
redigiu ao livro de D. Lecourt, Lyssenko, L, Althusser enuncia a este respeito
uma série de observações importantes (cl op. cit., p. 13).
(11) Cf. Das Kapital,
Livro I, in MEW, tomo 23, p. 94-95. (Na tradução francesa das Editions
Sociales, tomo 1, p. 91-92, este parágrafo não foi traduzido inteiramente).
(12) Cf. a resolução
sobre o Plano Qüinqüenal adotada em abril de 1929 pela XVI Conferência do
Partido, in KPSS, op. cit., tomo 2, p. 453.
(13) Stálin, W, tomo
II. p. 167.
(14) Entretanto,
tratou-se, como se sabe, de uma «condenação» essencialmente política e
«organizacional», não acompanhada da análise aprofundada que teria permitido
fazer progredir os conhecimentos teóricos e o marxismo revolucionário. Ê o que
indica um texto do CC do PCC em que é notado que no final dos anos 20 e no
início dos anos 30, «… a União Soviética tinha alcançado a vitória sobre os
trotskystas, embora, no plano teórico, somente a escola de Deborin tenha sido
derrotada» (cf. «Sur la question de Staline», citado segundo Promesse, inverno
1974-1975. p. 6; a «escola de Deborin» é uma corrente filosófica condenada em
1930 por Stálin por seu «idealismo menchevique»).
(15) No tomo I desta
obra, já vimos como algumas destas questões se colocam com Lênin ainda vivo.
Edição: Que Fazer.
Fonte: https://www.marxists.org/portugues/bettelheim/index.htm
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