28.5.21

A Guerra Civil em França

 

Introdução de Friedrich Engels à Edição de 1891


Chegou-me inesperadamente a solicitação para editar de novo a Mensagem do Conselho Geral internacional sobre A Guerra Civil em França e para a acompanhar de uma introdução. Por isso só posso tocar aqui, em poucas palavras, os pontos mais essenciais.



Faço preceder o referido trabalho, mais extenso, das duas Mensagens, mais curtas, do Conselho Geral sobre a guerra franco-alemã(1*). Por um lado, porque na Guerra Civil é referida a segunda, ela mesma não inteiramente compreensível sem a primeira. Mas também porque estas duas Mensagens, igualmente redigidas por Marx, são provas eminentes, em nada inferiores à Guerra Civil, do maravilhoso dote do autor, demonstrado pela primeira vez em O 18 de Brumário de Louis Bonaparte, de apreender claramente o carácter, o alcance e as consequências necessárias de grandes acontecimentos históricos, ao tempo em que estes acontecimentos ainda decorrem diante dos nossos olhos ou apenas acabaram de se consumar. E, finalmente, porque ainda hoje temos de sofrer, na Alemanha, as consequências, anunciadas por Marx, daqueles acontecimentos.

Ou não terá acontecido o que diz a primeira Mensagem, isto é, que se a guerra de defesa da Alemanha contra Louis Bonaparte degenera numa guerra de conquista contra o povo francês, toda a desgraça que se abateu sobre a Alemanha, após as chamadas guerras de libertação[N123], reviverá com renovada violência? Não tivemos nós mais vinte anos de dominação de Bismarck, não tivemos, em vez das perseguições aos demagogos[N124], a lei de exceção[N125] e a caça aos socialistas com a mesma arbitrariedade, com literalmente a mesma revoltante interpretação da lei?

E não ficou literalmente demonstrada a predição de que a anexação da Alsácia-Lorena iria «atirar a França para os braços da Rússia» e que, após esta anexação, ou a Alemanha se tornaria o servo notório da Rússia ou, após breve trégua, teria de se armar para uma nova guerra, ou seja, «para uma guerra de raças, contra as raças coligadas dos Eslavos e Latinos»»?(1*) A anexação das províncias francesas não empurrou a França para os braços da Rússia? Não cortejou Bismarck em vão, vinte anos inteiros, os favores do tzar, não os cortejou com serviços ainda mais rasteiros do que os que a pequena Prússia, antes de se ter tornado a «primeira grande potência da Europa», estava habituada a depor aos pés da Santa Rússia? E não paira ainda dia a dia sobre as nossas cabeças a espada de Dâmocles de uma guerra, no primeiro dia da qual todas as alianças protocolarmente seladas dos príncipes se desfarão como pó de palha de uma guerra em que nada é certo a não ser a absoluta incerteza do seu desfecho; de uma guerra de raças que sujeita toda a Europa à devastação por quinze ou vinte milhões de homens armados e ainda só não está em curso porque mesmo o mais forte dos grandes Estados militares receia a total imprevisibilidade do resultado final?

23.5.21

A Aliança Popular: O Programa e a Estratégia dos Comunistas Gregos

KKE (Partido Comunista da Grécia)

Tradução: Fernando Savella

A seguinte tradução compreende trechos selecionados da revista teórica do Partido Comunista da Grécia, em uma edição especialmente voltada ao aprofundamento e estudo em torno do programa deste partido. Neste documento, a estratégia e a tática do KKE, bem como sua concepção sobre as alianças de classe do proletariado, são expostas de modo aprofundado.



[…] Qualquer tentativa de determinar o caráter da revolução com quaisquer critérios que não sejam aqueles que surgem de sua época e da maturidade das pré-condições materiais não é um critério objetivo. No Ensaio sobre a História do KKE, volume 2, 1949-1968, está a seguinte passagem:

O caráter da revolução, como o elemento básico da estratégia de um partido comunista que age sob as condições do poder capitalista; não pode ser determinado pela correlação de forças existente, mas pela maturação das pré-condições materiais do socialismo. Esta última determina sua necessidade e sua temporalidade. O mínimo grau necessário de maturação das pré-condições materiais existe mesmo que a classe trabalhadora seja a minoria da população ativa, dado o momento em que ela se torna consciente de sua missão histórica por meio do estabelecimento de seu partido. A aliança social da classe trabalhadora com os estratos populares e toda forma de expressão política existe para servir o objetivo estratégico do poder da classe trabalhadora que expressa os interesses da maioria da população.”

[…] Quais são as forças motoras da revolução socialista?

Quando falamos das “forças motoras” da revolução socialista, nos referimos às forças sociais que têm um interesse objetivo na superação das relações de produção capitalistas.

Como já analisamos, a força motora básica, a força social que lidera o processo de revolução social é a classe trabalhadora, porque tem um interesse geral na abolição das relações capitalistas e na harmonização do caráter social da produção com a propriedade social dos meios de produção.

De toda forma; a abolição da propriedade capitalista também é do interesse do setor de pequenos proprietários de meios de produção que são esmagados pela propriedade capitalista de larga escala, os monopólios. Os interesses desses setores do estrato intermediário são próximos àqueles do proletariado, tomando em conta a grande probabilidade de se tornarem trabalhadores assalariados no futuro e não mais proprietários de meios de produção, como são hoje.

Lenin notou que: “O capitalismo não seria capitalismo se o proletariado propriamente dito não fosse cercado por um grande número de tipos intermediários extremamente heterogêneos entre os proletários e os semi-proletários (que ganham sua sobrevivência em parte pela venda de sua força de trabalho), entre o semi-proletário e o pequeno camponês (e pequeno artesão, trabalhador do artesanato e pequenos mestres em geral), entre o pequeno camponês e o médio camponês, e assim por diante, e se o próprio proletariado não fosse dividido em estratos mais e menos desenvolvidos, se não fosse dividido por origem geográfica, pela circulação, muitas vezes de acordo com a religião, e assim por diante.

É muito importante determinar tais forças, pois é necessário para a elaboração da política de alianças do movimento dos trabalhadores.

Isso significa a elaboração de um quadro de luta, para que os setores de vanguarda de tais estratos populares intermediários sejam retirados da influência política do capital e trazidos para a aliança com o movimento de trabalhadores revolucionários.

Em cada país capitalista, a composição e a porcentagem de tais forças diferem. No entanto, nós podemos defini-las como sendo forças que não podem permanentemente explorar trabalho alienado; e não podem acumular capital com base em sua atividade.

No Programa do KKE, há a seguinte passagem: “As forças motoras da revolução socialista serão a classe trabalhadora enquanto liderança, os semi-proletários, o estrato popular oprimido dos trabalhadores autônomos urbanos, os camponeses pobres, que são afetados negativamente pelos monopólios, e por essa razão tem um interesse objetivo em sua abolição, na abolição da propriedade capitalista, na superação de seu poder, nas novas relações de produção

Na Grécia, essas forças consistem em pobres camponeses, trabalhadores autônomos do varejo e da manufatura, trabalhadores de restaurantes e do turismo, da construção, limpeza, etc. Comumente, junto de outros membros de sua família, podem ser proprietários de terra e alguns outros meios de produção dispersos. O sistema capitalista, mais cedo ou mais tarde, fará com que percam sua terra, irá destruir os produtores independentes e trabalhadores e levá-los ao desemprego ou, no melhor dos casos, ao trabalho precário. Mesmo se o sistema os preservar por um certo período, suas condições de vida irão piorar (dívidas, insegurança, muitas horas de trabalho diário, etc.)

A longa e profunda crise provocou uma mudança brusca mesmo em setores em que o trabalho autônomo sobreviveu em melhores condições, como profissões ligadas à construção, reparos, direito e contabilidade. A integração de cientistas em grandes empresas capitalistas se estendeu ao direito, contabilidade, trabalho técnico, a todo o trabalho ligado à provisão de saúde e reabilitação, maternidade, saúde e segurança nos locais de trabalho, saúde pública, cultura e esporte enquanto trabalhadores assalariados, tendência que está em plena ascensão.

A tendência de deterioração das condições de importantes setores de trabalhadores autônomos e cientistas, mesmo que tenham um melhor salário e, principalmente, maior liberdade do que trabalhadores assalariados por trocarem seu trabalho por renda é característica. Setores de autônomos (e.g. engenheiros, advogados, contadores, etc.) aparecem enquanto autônomos somente em um sentido formal e trabalham com um pagamento padrão dado pela empresa capitalista, com a diferença que imprime para si um recibo de pagamento.

Seus interesses de médio prazo são encontrados objetivamente no conflito e na derrubada dos monopólios, da propriedade capitalista, ao lado da classe trabalhadora pela conquista do poder.

Para setores significativos de trabalhadores autônomos, a luta em comum com os trabalhadores assalariados é a única escolha que serve seus interesses futuros. Seu próprio interesse repousa no Estado dos trabalhadores, lhes provendo todas as condições para realizar o trabalho científico pela prosperidade da sociedade.

É inevitável que, ou eles se aliem ao modo de produção capitalista, cuja consequência é a destruição violenta da maioria deles, ou se aliem com o desenvolvimento baseado na propriedade social (popular), planejamento central a favor da prosperidade social. É do interesse da classe trabalhadora trazer tal estrato social para o seu lado, o lado do poder do povo trabalhador ou, ao menos, assegurar que eles não se aliem com a reação da classe capitalista.

A destruição dos trabalhadores autônomos não deve ser entendida como uma tendência absoluta, pois coexiste com a reprodução de um certo estrato intermediário, ainda que sob condições de relativa piora de suas condições, relativamente ao período anterior.

Levar seções dessas forças para o lado da classe trabalhadora ou as neutralizar pressupõe a existência de um movimento poderoso de trabalhadores que terá o papel de liderança na mobilização do povo.

Subestimar esse aspecto leva ao perigo de, ao invés de levar essas forças para o lado da classe trabalhadora, prevaleçam na classe trabalhadora as visões pequeno-burguesas de tais forças e a transformem num apêndice da linha política burguesa.

A classe trabalhadora não está separada desses estratos por uma “muralha da China”, ainda mais porque assim como existem diferenças em seu interior, existem fatores objetivos e subjetivos que levantam obstáculos à sua unidade.

A política de alianças do Partido Comunista, a política de alianças do ponto de vista da classe trabalhadora, tem como objetivo trazer forças sociais para o lado da classe trabalhadora, tem como objetivo reunir essas forças com uma determinada orientação que seja formada numa base anti-capitalista, na direção do confronto contra o capital.

14.5.21

OS QUE ESTÃO ASSUSTADOS COM A FALÊNCIA DO VELHO E OS QUE LUTAM PELO NOVO

 V.I. Lenin

 

     “Os bolcheviques já estão no poder há dois meses, e em vez do paraíso socialista vemos o inferno do caos, da guerra civil, de uma ruína ainda maior.” Assim escrevem, falam e pensam os capitalistas juntamente com os seus partidários conscientes e semiconscientes.

Coluna do Exército Vermelho na Guerra Civil.


     Os bolcheviques só estão no poder há dois meses - responderemos nós -, e o passo em frente que já foi dado em direção ao socialismo é enorme. Não vê isto quem não quer ver ou não sabe avaliar os acontecimentos históricos na sua conexão. Não querem ver que em algumas semanas foram destruídas quase até aos fundamentos as instituições não democráticas no exército, no campo, na fábrica. E não há nem pode haver outro caminho para o socialismo senão através dessa destruição. Não querem ver que em algumas semanas a mentira imperialista em matéria de política externa, que prolongava a guerra e encobria a pilhagem e a conquista, com os tratados secretos, foi substituída por uma política realmente democrática revolucionária de paz realmente democrática, que produziu já um êxito prático tão grande como o armistício e a centuplicação da força propagandística da nossa revolução. Não querem ver que o controle operário e a nacionalização dos bancos começaram a ser aplicados, e isto são precisamente os primeiros passos para o socialismo.

     Não são capazes de compreender a perspectiva histórica aqueles que foram esmagados pela rotina do capitalismo, aturdidos pela estrondosa falência do velho, pelo estrépito, pelo barulho, pelo “caos” (aparente caos) do desmoronamento e afundamento dos seculares edifícios do tsarismo e da burguesia, assustados com o fato de a luta de classes ter sido levada a uma extrema agudização, com a sua transformação em guerra civil, a única que é legítima, a única que é justa, a única que é sagrada - não no sentido clerical mas no sentido humano da palavra -, a guerra sagrada dos oprimidos contra os opressores, pelo seu derrubamento, pela libertação dos trabalhadores de toda a opressão. No fundo todos estes esmagados, aturdidos e assustados burgueses, pequenos burgueses e “serventuários da burguesia” se guiam, muitas vezes sem eles próprios terem consciência disso, pela ideia velha, absurda, sentimental e intelectual-vulgar da “introdução do socialismo”, que adquiriram “por ouvir dizer”, apanhando fragmentos da doutrina socialista, repetindo a deturpação desta doutrina por ignorantes e semi-sábios, atribuindo-nos a nós, marxistas, a ideia e mesmo o plano de “introduzir” o socialismo.

     Essas ideias, para já não falar de planos, são-nos alheias a nós, marxistas. Nós sempre soubemos, dissemos, repetimos, que não se pode “introduzir” o socialismo, que ele surge no decurso da mais tensa e mais aguda - indo até à raiva e ao desespero - luta de classes e guerra civil; que entre o capitalismo e o socialismo há um longo período de “dores de parto”; que a violência é sempre a parteira da velha sociedade; que ao período de transição da sociedade burguesa para a socialista corresponde um Estado particular (isto é, um sistema particular de violência organizada sobre uma certa classe), a saber, a ditadura do proletariado. E a ditadura pressupõe e significa uma situação de guerra contida, uma situação de medidas militares de luta contra os adversários do poder proletário. A Comuna foi uma ditadura do proletariado, e Marx e Engels censuraram a Comuna, consideraram uma das causas da sua morte o fato de a Comuna ter utilizado com insuficiente energia a sua força armada para reprimir a resistência dos exploradores.

     No fundo, todos estes brados de intelectuais a propósito da repressão da resistência dos capitalistas não constituem senão uma sobrevivência da velha “conciliação”, para falar “educadamente”. Mas para falar com franqueza proletária é preciso dizer: a continuação do servilismo perante o saco do dinheiro, é esse o fundo dos brados contra a atual violência operária empregue (infelizmente de modo ainda demasiado fraco e não enérgico) contra a burguesia, contra os sabotadores, contra os contra-revolucionários. “A resistência dos capitalistas foi quebrada”, proclamou o bom Pechekhónov, um dos ministros conciliadores, em Junho de 1917. Este bom homem nem suspeitava que a resistência tem realmente de ser quebrada, que ela será quebrada, de que é precisamente a esse quebrar que, em linguagem científica, se chama ditadura do proletariado, que todo um período histórico se caracteriza pela repressão da resistência dos capitalistas, se caracteriza, por conseguinte, por uma violência sistemática sobre toda uma classe (a burguesia), sobre os seus cúmplices.

     A cobiça, a suja, raivosa, furiosa, cobiça do saco do dinheiro, o medo e servilismo dos seus parasitas - tal é a verdadeira base social do atual uivo dos intelectuais, do Retch à Nóvaia Jizn, contra a violência da parte do proletariado e do campesinato revolucionário. Tal é o significado objetivo do seu uivo, das suas tristes palavras, dos seus gritos de comediantes sobre a “liberdade” (a liberdade dos capitalistas de oprimir o povo), etc., etc. Eles estariam “dispostos” a reconhecer o socialismo se a humanidade saltasse para ele de golpe, com um salto espetacular, sem fricções, sem luta, sem ranger de dentes da parte dos exploradores, sem diversas tentativas da sua parte de defender os velhos tempos ou de voltar a eles por caminhos desviados, às ocultas, sem repetidas “respostas” da violência revolucionária proletária a essas tentativas. Estes parasitas intelectuais da burguesia estão “dispostos”, como diz o conhecido provérbio alemão, a lavar a pele desde que a pele fique sempre seca.

    Quando a burguesia e os funcionários, empregados, médicos, engenheiros, etc., que estão habituados a servi-la, recorrem às medidas mais extremas de resistência, isso horroriza os intelectuaizinhos. Eles tremem de medo e berram ainda mais estridentemente acerca da necessidade de voltar à “conciliação”. Mas a nós, tal como a todos os amigos sinceros da classe oprimida, as medidas extremas de resistência dos exploradores só nos podem alegrar, pois nós não esperamos o amadurecimento do proletariado para o poder a partir das exortações e da persuasão, da escola das pregações adocicadas ou das declamações edificantes, mas da escola da vida, da escola da luta. Para se tornar a classe dominante e vencer definitivamente a burguesia, o proletariado tem de aprender isto porque ele não tem onde ir buscar este conhecimento já pronto. E é preciso aprender na luta. E só uma luta séria, tenaz e desesperada é que ensina. Quanto mais extrema for a resistência dos exploradores, mais enérgica, firme, implacável e bem-sucedida será a sua repressão pelos explorados. Quanto mais diversas forem as tentativas e esforços dos exploradores para defenderem o velho, mais depressa o proletariado aprenderá a expulsar os seus inimigos de classe dos seus últimos recantos, a minar as raízes da sua dominação, a remover o próprio terreno em que a escravidão assalariada, a miséria das massas, o enriquecimento e o descaramento do saco do dinheiro podiam (e tinham de) crescer.

     À medida que cresce a resistência da burguesia e dos seus parasitas cresce a força do proletariado e do campesinato que a ele se uniu. Os explorados fortalecer-se-ão, amadurecerão, crescerão, aprenderão, afastarão de si o “velho Adão” da escravidão assalariada à medida que crescer a resistência dos seus inimigos - os exploradores. A vitória estará do lado dos explorados, porque do seu lado está a vida, do seu lado está a força do número, a força da massa, a força das fontes inesgotáveis de tudo o que é abnegado, avançado e honesto, de tudo o que aspira a avançar, de tudo o que desperta para a construção do novo, de toda a gigantesca reserva de energia e de talentos do chamado “baixo povo”, os operários e camponeses. A vitória pertence-lhes. 

 

Fonte: Obras Escolhidas em Seis Tomos, V.I. Lénine, Ed. Avante!, Lisboa, 1986, t.3, pp. 354-357.

Escrito em 24-27 de Dezembro de 1917 (6-9 de Janeiro de 1918).

 

8.5.21

SOBRE A NOSSA REVOLUÇÃO

 V.I. Lenin

(A propósito das notas de N. Sukhánov) [1]

I

Folheei nestes dias as notas de Sukhánov sobre a revolução.

 

Lenin deu combate sem tréguas ao reformismo.

O que salta sobretudo à vista é o pedantismo de todos os nossos democratas pequeno-burgueses, bem como de todos os heróis da II Internacional. Sem falar já de que são extraordinariamente covardes e de que mesmo os melhores deles se enchem de reservas quando se trata do menor desvio relativamente ao modelo alemão, sem falar já desta qualidade de todos os democratas pequeno-burgueses, suficientemente manifestada durante toda a revolução, salta à vista a sua servil imitação do passado.

Todos eles se dizem marxistas, mas entendem o marxismo de uma maneira extremamente pedante. Não compreenderam de modo nenhum aquilo que é decisivo no marxismo: precisamente a sua dialética revolucionária. Não compreenderam em absoluto nem mesmo as indicações diretas de Marx, dizendo que nos momentos de revolução é necessária a máxima flexibilidade [2], e nem sequer notaram, por exemplo, as indicações de Marx na sua correspondência, referente, se bem me recordo, a 1856, na qual expressava a esperança de que a guerra camponesa na Alemanha, capaz de criar uma situação revolucionária, se unisse ao movimento operário [3] – evitam mesmo esta indicação direta, dando voltas em volta dela como o gato em volta do leite quente.

Em toda a sua conduta revelam-se uns reformistas covardes que temem afastar-se da burguesia e, mais ainda, romper com ela, e ao mesmo tempo ocultam a sua covardia com a fraseologia e a jactância descarada. Mas, mesmo do ponto de vista puramente teórico, salta à vista em todos eles a sua plena incapacidade de compreender a seguinte ideia do marxismo: viram até agora um caminho determinado de desenvolvimento do capitalismo e da democracia burguesa na Europa Ocidental. E eis que eles não são capazes de imaginar que este caminho só pode ser considerado como modelo mutatis mutandis*, só com algumas correções (absolutamente insignificantes do ponto de vista do curso geral da história universal).

Primeiro - uma revolução ligada à primeira guerra imperialista mundial. Numa tal revolução deviam manifestar-se traços novos ou modificados precisamente em consequência da guerra, porque nunca houve no mundo tal guerra em tal situação. Vemos que até agora a burguesia dos países mais ricos não pode organizar relações burguesas “normais” depois dessa guerra, enquanto os nossos reformistas, pequenos burgueses que se armam em revolucionários, consideravam e consideram como um limite (além disso insuperável) as relações burguesas normais, compreendendo esta “norma” de uma maneira extremamente estereotipada e estreita.

Segundo - é-lhes completamente alheia qualquer ideia de que dentro das leis gerais do desenvolvimento em toda a história mundial não estão de modo nenhum excluídas, mas, pelo contrário, pressupõem-se determinadas etapas de desenvolvimento que apresentam peculiaridades, quer na forma quer na ordem desse desenvolvimento. Nem sequer lhes passa pela cabeça, por exemplo, que a Rússia, situada na fronteira entre os países civilizados e os países que pela primeira vez são arrastados definitivamente por esta guerra para o caminho da civilização, os países de todo o Oriente, os países não europeus, que a Rússia podia e devia, por isso, revelar certas peculiaridades, que naturalmente estão na linha geral do desenvolvimento mundial mas que distinguem a sua revolução de todas as revoluções anteriores dos países da Europa Ocidental e que introduzem algumas inovações parciais ao deslocar-se para os países orientais.

Por exemplo, não pode ser mais estereotipada a argumentação por eles usada, que aprenderam de memória na época do desenvolvimento da socialdemocracia da Europa Ocidental e que consiste no fato de que nós não estamos maduros para o socialismo, de que não existem no nosso país, segundo a expressão de vários “doutos” senhores dentre eles, as premissas econômicas objetivas para o socialismo. E não passa pela cabeça de nenhum deles perguntar: não podia um povo que se encontrou numa situação revolucionária como a que se criou durante a primeira guerra imperialista, não podia ele, sob a influência da sua situação sem saída, lançar-se numa luta que lhe abrisse pelo menos algumas possibilidades de conquistar para si condições que não são de todo habituais para o crescimento ulterior da civilização?

A Rússia não atingiu um nível de desenvolvimento das forças produtivas que torne possível o socialismo.” Todos os heróis da II Internacional, e entre eles, naturalmente, Sukhánov, se comportam como se tivessem descoberto a pólvora. Ruminam esta tese indiscutível de mil maneiras e parece-lhes que é decisiva para apreciar a nossa revolução.

Mas que fazer, se uma situação peculiar levou a Rússia, primeiro à guerra imperialista mundial, na qual intervieram todos os países mais ou menos influentes da Europa Ocidental, e colocou o seu desenvolvimento no limite das revoluções do Oriente, que estão a começar e em parte já começaram, em condições que nos permitiram levar à prática precisamente essa aliança da “guerra camponesa” com o movimento operário sobre as quais escreveu um “marxista” como Marx em 1856 como uma das perspectivas possíveis com relação à Prússia?

Que fazer se uma situação absolutamente sem saída, decuplicando as forças dos operários e camponeses, abria perante nós a possibilidade de passar de maneira diferente de todos os outros países da Europa Ocidental à criação das premissas fundamentais da civilização? Alterou-se por isso a linha geral de desenvolvimento da história universal? Alteraram-se por isso as correlações fundamentais das classes fundamentais em cada país que se integra e integrou já no curso geral da história mundial?

Se para criar o socialismo é necessário um determinado nível de cultura (ainda que ninguém possa dizer qual é precisamente esse determinado “nível de cultura”, pois ele é diferente em cada um dos Estados da Europa Ocidental), por que é que não podemos começar primeiro pela conquista, por via revolucionária, das premissas para esse determinado nível, e já depois, com base no poder operário e camponês e no regime soviético, pôr-nos em marcha para alcançar os outros povos?

 

16 de Janeiro de 1923.

 

II

 

Para criar o socialismo, dizeis, é necessária civilização. Muito bem. Mas então, por que não havíamos de criar primeiro no nosso país premissas da civilização como a expulsão dos capitalistas russos e depois iniciar um movimento para o socialismo? Em que livros lestes que semelhantes alterações da ordem histórica habitual são inadmissíveis ou impossíveis?

Lembro que Napoleão escreveu: "On s'engage et puis ... on voit." Traduzido livremente para russo isto quer dizer: “Primeiro lançamo-nos no combate sério e depois logo vemos.” E nós, em Outubro de 1917, iniciamos primeiro o combate sério e depois logo vimos os pormenores do desenvolvimento (do ponto de vista da história universal trata-se indubitavelmente de pormenores), tais como a Paz de Brest ou a NEP, etc. E hoje não há dúvida de que, no fundamental, alcançamos a vitória.

Os nossos Sukhánov, sem falar já daqueles sociais-democratas que estão mais à direita, nem sonham sequer que as revoluções em geral não se podem fazer de outra maneira. Os nossos filisteus europeus não sonham sequer que as futuras revoluções nos países do Oriente, com uma população incomparavelmente mais numerosa e que se diferenciam muito mais pela diversidade das condições sociais" apresentarão sem dúvida mais peculiaridades do que a revolução russa.

Nem é preciso dizer que o manual redigido segundo Kautsky foi, na sua época, uma coisa muito útil. Mas já é tempo de renunciar à ideia de que esse manual tinha previsto todas as formas de desenvolvimento ulterior da história mundial. Àqueles que pensam desse modo é tempo já de os declarar simplesmente imbecis.

17 de janeiro de 1923.

 

* Com as correspondentes mudanças.

Notas

[1] O artigo de Lenin Sobre a Nossa Revolução foi escrito a propósito dos terceiro e quarto livros Notas sobre a Revolução do menchevique N. Sukhánov. O artigo foi enviado à redação do Pravda por Nadejda Krupskaia sem título, o qual foi dado pela redação do jornal.

[2] Lenin refere-se, evidentemente, à caracterização da Comuna de Paris como "forma política inteiramente expansiva” na obra de Marx A Guerra Civil em França e à elevada apreciação da “elasticidade” dos parisienses feita por Marx na carta a L. Kugelmann de 12 de abril de 1871.

[3] Lenin alude ao seguinte trecho de uma carta de K. Marx a F. Engels de 16 de abril de 1856: “Tudo na Alemanha dependerá da possibilidade de apoiar a revolução proletária por uma qualquer segunda edição da guerra camponesa. Então a coisa será ótima.

Fonte: Obras Escolhidas em Seis Tomos, V.I. Lénine, Ed. Avante!, Lisboa, 1986, t.5, pp. 366-369.

 

1.5.21

A Obra de Lenin é Atual

Camaradas,

QUE FAZER é a expressão inicial de um processo coletivo de construção de um espaço de debates entre comunistas que rejeitam a política de subordinação ao capital praticada pela sua quinta-coluna no movimento operário - o reformismo socialdemocrata e suas variantes pequeno-burguesas - e se insurgem contra o oportunismo e o revisionismo de organizações, algumas auto-intituladas comunistas, que abrem mão da independência política e ideológica do proletariado no altar de “frentes de esquerda”  ou “antifascistas”, em defesa do que entendem como “democracia”  e “justiça social”. 

Um dos nossos objetivos é contribuir para a aproximação, o debate franco e o trabalho comum entre os que também reivindicam o marxismo-leninismo desde uma perspectiva revolucionária e internacionalista e que entendem que a derrubada do capitalismo e a conquista do socialismo – e deste ao comunismo – não será possível de forma pacífica e institucional e, muito menos, sem a presença de um combativo partido comunista enraizado no proletariado, inspirado no socialismo científico, com base em um verdadeiro centralismo democrático e uma firme unidade de ação, que não se deixe seduzir pela democracia burguesa nem afaste sua movimentação tática da estratégica socialista da Revolução Brasileira. 

Partimos da convicção de que a fase imperialista do capitalismo é a época das revoluções proletárias e de que vivemos nesta época uma sucessão de levantes proletários e revoluções socialistas, em função do agravamento das contradições entre o capital e o trabalho, da luta de classes no quadro de uma profunda crise de super produção e sobre acumulação de capital, de acirradas disputas interimperialistas e de uma pandemia que, como raras vezes na história, desnuda as mazelas do capitalismo, com o aumento do nível de exploração, do desemprego, da pobreza e da miséria. 

Essa tendência só poderá resultar em fatores positivos para a batalha pelo socialismo onde encontrarem uma vanguarda revolucionária com raízes nas lutas populares e operárias e com a determinação de levar a cabo a expropriação do poder das mãos da burguesia, a destruição de seu Estado e abolição da propriedade privada dos meios de produção e a construção da ditadura do proletariado, tendo como horizonte a sociedade sem classes. 

Na publicação inaugural deste espaço de debate, reproduzimos abaixo o pronunciamento de Giorgos Marinos, membro do Bureau Político do CC do KKE (Partido Comunista da Grécia), em uma recente Conferência dos Partidos da Iniciativa Comunista Europeia (ICE), celebrando o 151º aniversário de Lenin e resgatando a atualidade do seu pensamento.

1º de Maio de 2021

Conselho Editorial


A Obra de Lenin é Atual*


Estimados camaradas:

Este evento online da Iniciativa Comunista Europeia é dedicado ao 151º aniversário do nascimento do grande revolucionário Vladimir Ilyich Lenin e a sua obra valiosa.

O dirigente do partido bolchevique foi o fundador do Partido Comunista, o partido de Novo Tipo, o líder da Grande Revolução Socialista de outubro de 1917 que abalou o mundo, e dos primeiros anos de construção socialista. Ele foi o protagonista da fundação da Internacional Comunista que impulsionou a luta dos partidos comunistas e a estratégia comunista unificada.

Giorgos Marinos, Iniciativa Comunista Europeia


Rendemos honra a Lênin reconhecendo nossa responsabilidade de estudar e aprofundar sua obra, e em geral, nossa visão de mundo, o marxismo-leninismo, compreendendo mais profundamente que "Sem teoria revolucionária não há movimento revolucionário".

Armados com os princípios leninistas, podemos enfrentar as dificuldades da contra-revolução, continuar persistentemente a luta para superar a profunda crise ideológica, política e organizacional do movimento comunista, para conseguir seu reagrupamento revolucionário.

O capitalismo está podre. Está crescendo o fosso entre as possibilidades criadas pelo avanço científico e tecnológico e o grau de satisfação das necessidades populares.

Isso fica evidente pela intensificação da exploração, crises capitalistas, a nova crise de superacumulação de capital, desemprego e pobreza que a classe trabalhadora e as camadas populares estão experimentando em todo o mundo, em face do ataque generalizado do capital, dos governos liberais ou sociais democratas burgueses.

A pandemia e suas duras consequências para os povos, o colapso dos sistemas de saúde pública e comerciais, os milhões de mortos evidenciam os impasses do sistema.

Esses impasses também são sinalizados pelos planos militares e políticos dos Estados Unidos, da OTAN e da UE, as guerras imperialistas, as rivalidades com a Rússia e a China, em uma longa corrida pelo controle dos mercados, dos recursos naturais, das vias de transporte de energia, que advertem sobre novas e generalizadas guerras.

O objetivo da luta do partido revolucionário da luta de classes, segundo Lenin, era “dirigir a luta da classe trabalhadora não só para obter condições vantajosas condições de venda da força de trabalho, mas sim, para destruir o regime social que obriga os despossuídos vender-se aos ricos ”.

As tarefas dos partidos comunistas estão se multiplicando. É o momento de fortalecer o espírito crítico e autocrítico ao examinar a experiência acumulada, estudar mais profundamente as causas da contra-revolução, a história dos partidos comunistas, do movimento comunista, tirar conclusões e comprovar o nível de preparação revolucionária. Isso é o que nossa época exige como uma época de transição do capitalismo ao socialismo.

Alguns partidos comunistas passaram por muitas dificuldades e retrocessos e conseguiram lançar as bases da estratégia revolucionária, o que é um avanço importante.

No entanto, a luta pela derrubada do capitalismo, pelo poder dos trabalhadores, pela “ditadura do proletariado”, requer o fortalecimento ideológico e político dos partidos comunistas, generalização da estratégia revolucionária, laços fortes com a classe trabalhadora e as camadas populares, o papel protagonista no movimento operário e trabalho persistente para ganhar consciências, desviar forças da ideologia burguesa e do oportunismo.

Requer partidos comunistas fortes, com organização nas fábricas, nos centros de trabalho, capacidade de dirigir, de desenvolver a teoria baseada nos princípios do marxismo-leninismo para o estudo sistemático dos acontecimentos, dos novos fenômenos que surgem no sistema de exploração.

As condições objetivas determinarão quando e onde o "elo fraco" será quebrado e os comunistas devem estar bem preparados para que o fator subjetivo, o Partido Comunista, o movimento operário e a aliança social consigam estar à altura das circunstâncias.

A discussão, o debate no movimento comunista sobre o caráter da revolução é crucial. Na época dos monopólios, do imperialismo, amadureceram as condições materiais para a sociedade socialista-comunista, o caráter da revolução é objetivamente socialista, não se determina pela correlação de forças, mas sim, pelos interesses da classe trabalhadora que está no palco da História, por causa da contradição básica que deve ser resolvida, a contradição capital-trabalho.

A velha estratégia de "estágios intermediários de transição" custou muito caro ao movimento comunista, confinando a luta ao domínio do capitalismo. O poder será burguês ou operário; não houve e nunca haverá uma terceira via. Abandonar o poder dos trabalhadores e ter como objetivo criar as chamadas “frentes antifascistas e antineoliberais”, governos “antimonopolistas”, “de esquerda”, “progressistas” significa perpetuar o sistema de exploração. Isso foi demonstrado pela experiência na América Latina e a nível internacional.

As colaborações políticas com a socialdemocracia, o apoio ou participação em governos socialdemocratas de qualquer tipo, afetam o curso dos partidos comunistas, sua independência política e ideológica, conduzem à manipulação do movimento operário, o deixam desarmado, são um elemento da crise do movimento comunista.

O confronto de Lenin com o "governo provisório" após a revolução burguesa de fevereiro de 1917, o debate nos sovietes e as "Teses de Abril" assinalam o caminho do enfrentamento constante com as forças burguesas e oportunistas como condição para a preparação da revolução socialista.

O debate no movimento comunista é necessário e diz respeito a todas as questões importantes. Existem pontos de vista que limitam o significado do imperialismo na política externa agressiva dos EUA, separando a política da economia.

Lenin, ao estudar o desenvolvimento do capitalismo, sublinhou que o imperialismo é o capitalismo monopolista, a última fase do sistema em que se formam as condições materiais e se destaca a necessidade da derrubada revolucionária, a construção do modo de produção comunista.

Demonstrou que o acirramento da contradição básica entre o caráter social da produção e a apropriação capitalista de seus resultados, caracteriza todos os estados capitalistas, independentemente da posição que ocupem no sistema imperialista internacional. Advertiu que “sem ter compreendido as raízes econômicas desse fenômeno, sem ter percebido sua importância política e social, é impossível dar o menor passo para a solução das tarefas práticas do movimento comunista e da revolução social que se avizinha."

Utilizando a teoria leninista como ferramenta, podemos analisar a competição que se manifesta a nível internacional, o caráter das organizações imperialistas, como são a União Europeia, os BRICS e outras, no centro das quais estão os monopólios.

Segue muito atual a polêmica de Lenin contra a corrente oportunista e suas variantes, o "pacifismo" e o "social-chauvinismo" que colaborou com as classes burguesas dos Estados em guerra durante a Primeira Guerra Mundial, o que levou à falência da Segunda Internacional.

A guerra se produz em condições de “paz imperialista”, é a “continuação da política por outros meios violentos”. É imperialista de ambos os lados, independentemente de qual seja o estado capitalista que primeiro iniciou a guerra e a luta deve ser desenvolvida contra a causa da guerra, deve estar dirigida a criar as condições prévias para a derrubada do poder da burguesia.

Estimados camaradas:

Defendemos o primeiro esforço de construção do socialismo no século 20. Sua contribuição é de importância histórica. A exploração do homem pelo homem foi abolida. Foram criadas instituições que asseguravam a participação dos trabalhadores na construção da nova sociedade.

Apesar das fraquezas, erros e desvios que levaram à sua derrocada mediante a erosão oportunista dos partidos comunistas e da contra-revolução, sua superioridade em comparação à barbárie capitalista foi demonstrada na prática. Ficou evidente através das conquistas populares, do estabelecimento do direito ao trabalho estável e da abolição do desemprego, do sistema público de saúde desenvolvido e da educação verdadeira e gratuita, da igualdade da mulher, das conquistas na cultura e nos esportes.

Assim como através da contribuição para a abolição do colonialismo, do papel decisivo na vitória antifascista dos povos, na Segunda Guerra Mundial, do internacionalismo proletário, da solidariedade e do apoio dos povos contra a agressão imperialista.

A revolução e a construção socialistas são regidas por princípios, por leis científicas.

O poder dos trabalhadores abre o caminho para a socialização dos meios de produção e a planificação científica central para a satisfação das necessidades sociais contemporâneas, em um esforço constante para desenvolver as relações de produção comunistas.

A violação dos princípios da construção socialista-comunista e a utilização de métodos capitalistas custam caro, como ficou demonstrado na restauração capitalista da União Soviética e nos outros países que construíram o socialismo.

No marco da contra-revolução, a doutrina fracassada do "caminho nacional para o socialismo" é levantada novamente. Procura-se minar as leis científicas de construção da nova sociedade por meio do chamado “socialismo de mercado”. Se apresenta como socialismo uma caricatura deste, que o nega, como fica evidente no chamado “socialismo com características chinesas”.

No entanto, na China, há anos, têm predominado as relações capitalistas de produção sob a responsabilidade do partido comunista. Sua base econômica é baseada em monopólios, grandes grupos econômicos; o estado opera como um "capitalista coletivo". A força de trabalho é uma mercadoria, a classe trabalhadora sofre um alto grau de exploração e nesta base surgiram mais de 400 bilionários. Uma grande quantidade de capital é exportada para todos os continentes e a China desempenha um papel protagonista na competição imperialista.

O chamado "Socialismo do século XXI" é falso; questiona o papel de vanguarda revolucionária da classe trabalhadora, pressupõe a preservação do estado burguês - que deve ser derrubado -, a perpetuação do poder e da propriedade capitalistas.

O socialismo-comunismo nada tem a ver com as empresas capitalistas, o mercado, o critério do lucro e a exploração do homem pelo homem que os comunistas lutam para abolir.

A planificação científica central dos meios de produção socializados é a base da superioridade do novo sistema e pode desenvolver ainda mais as forças produtivas.

Não há espaço para demoras. A contra-revolução continua e, portanto, para os partidos comunistas, os comunistas, que acreditam no socialismo-comunismo, é  imprescindível que defendam os princípios marxista-leninistas de construção da nova sociedade.

Caso contrário, as consequências serão mais dolorosas, a assimilação ao sistema acontecerá rapidamente, a crise do movimento comunista internacional se aprofundará e as responsabilidades históricas serão grandes.

O KKE elaborou uma estratégia revolucionária contemporânea, está estudando sua história, está na vanguarda da luta de classes, mas não é complacente. Insiste no esforço de fortalecer os laços combativos com a classe trabalhadora, com os setores populares das classes médias nas áreas urbanas, com os camponeses pobres. Luta pela construção de organizações do Partido nas fábricas, nos centros de trabalho, em setores de importância estratégica, pelo reagrupamento do movimento operário e da aliança social, em choque com os monopólios e o capitalismo, para sua derrubada. Essas questões serão tratadas pelos comunistas na Grécia no XXI Congresso do KKE, em junho.

Seguimos o caminho traçado por Lênin e a Revolução Socialista de Outubro. Desta forma, prestamos homenagem à grande história revolucionária e heroica do movimento comunista.

* Discurso introdutório na Teleconferência dos partidos da Iniciativa Comunista Europeia (ICE) dedicada a Lenin e à atualidade de sua obra, 22 de abril de 2021.

Fonte: https://inter.kke.gr/es/articles/La-obra-de-Lenin-es-actual/





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